Os especialistas do Sebrae têm pela frente uma tarefa que pode ser ainda mais complicada do que mudar a estrutura física da Rua Riachuelo. Eles vão ajudar os comerciantes da região a transformar sua cultura. Hoje, a área tem várias lojas de móveis e roupas usadas que precisam se esforçar para conquistar o público esperado com a melhora na infraestrutura.
"Todo empresário tem coisas para melhorar, para rever e reestudar no seu próprio negócio", diz Walderes Bello, consultora de projetos de varejo do Sebrae. "Não adianta reformar a rua se eles continuarem a subir com o caminhão na calçada, por exemplo. É preciso uma reforma também na mentalidade do empresariado local."
Para que a Riachuelo volte a ser uma rua tradicional de comércio, o arquiteto do Ippuc Mauro Magnobosco, coordenador do Projeto Novo Centro, aposta na "repaginação" dos brechós e lojas de móveis, mas também na atração de "um comércio mais sofisticado", o que provocaria a ampliação da clientela.
"Você não vai transformar a Riachuelo numa Avenida Batel", relativiza o arquiteto. "Nós temos ali um fluxo de pessoas de classe B, C, talvez até D, que vêm para o centro da cidade com recursos muito limitados. O comércio vende para esse tipo de freguês, é muito difícil mudar, mas pode ter novos atrativos para buscar um público diferenciado", diz Magnobosco.
Tal objetivo requer um produto que atenda o mesmo critério: apresentar um diferencial, seja em qualidade ou conceito.
O empresário Alessandro Weber, proprietário da loja Achados do Batel, acredita que a revitalização possa se efetivar se a rua oferecer um passeio agradável entre as praças que interliga. "Tem que se transformar em um lugar mais charmoso, nem que seja por um tatuador bacana, um salão de beleza badalado ou arte na rua", diz.
Se a ideia é atrair novos frequentadores, "é preciso imprimir um estilo para esse comércio", opina Weber. Mas "estilo é uma coisa muito difícil de ensinar", pondera Tiça Muniz, dona da loja Flor de Vedete, no Bom Retiro.
Os brechós da Riachuelo algumas vezes forneceram matéria-prima (especialmente casacos masculinos antigos) para seu ateliê, dedicado à moda retrô. A catarinense que veio para Curitiba há oito anos conta que já aconteceu de encontrar, nos fundos de uma das lojas da rua central, desprezado, um vestido da alta costura francesa. Sem falar nos alfinetes de prata com almofada de veludo e outros mimos caros à estilista.
Como nem sempre os vendedores estão conscientes do que têm ou no valor dentre os produtos que oferecem, e como não se impõe facilmente senso estético a alguém, Tiça sugere que os comerciantes invistam em informações sobre sua área de atuação. "Comprar um dicionário de moda com a história do que já foi feito é superlegal para quem tem um brechó", indica.
A empresária vê com bons olhos a revitalização da rua. Se não se instalou na região até hoje, foi por causa da violência decorrente do consumo de drogas por ali. "Faz tempo que penso em arranjar um lugar para abrir um brechó, mas o que me fez repensar foi a questão da segurança. Se ficar seguro e tiver espaço, eu vou para lá", diz.
Mobília
Os móveis antigos, de madeira nobre, são cada vez mais escassos nas lojas da Riachuelo, segundo o empresário João Livoti, que trabalha com artigos restaurados das décadas de 50 e 60 na loja Desmobília, no Batel. "Há cinco ou dez anos via muitas peças interessantes. Mudou o perfil, do móvel antigo para o usado", diz.
Além do trabalho de garimpar um objeto em meio às peças que se empilham umas sobre as outras, Livoti aponta como empecilho a dificuldade de restaurar o que se compra.
"A prestação de serviços seria um caminho interessante. Faltam oficinas para restaurar, lixar, empalhar. Isso poderia aquecer o mercado do entorno e o cliente sairia com uma peça relativamente nova e mais barata que a peça zero", propõe.