Todos os dias, 2 mil pessoas circulam por hora entre a Praça Tiradentes e o Centro Cívico em Curitiba. É um fluxo de gente que faz compras, vai a restaurantes e usa os serviços da região e que, em grande parte, evita passar pela Rua Riachuelo. Esse caminho, com 200 anos de história, ganhou má fama com seus imóveis vazios e fechados por tapumes, iluminação deficiente e a imagem de que é um ponto de prostituição e consumo de drogas.
Uma parceria entre a prefeitura de Curitiba, a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) e o Sebrae pretende transformar essa fama. O projeto dará à Riachuelo e à Rua São Francisco novas calçadas, iluminação mais eficiente e incentivos para que os belos prédios históricos sejam reformados e ocupados por negócios como restaurantes e lojas. De cara nova, espera-se que essa parte do Centro de Curitiba ganhe vida e complemente a revitalização que já foi feita em áreas próximas, como o Paço Municipal.
A transformação também passará pelo trabalho de fazer com que os comerciantes da região entendam melhor os desejos dos consumidores e tirem proveito de um ponto revigorado pela intervenção paisagística. A tarefa, a cargo do Sebrae, levará tempo porque exige uma mudança cultural. A comerciante Regina Soares, da loja Semi-Novos, na esquina da Riachuelo com a Alfredo Bufren, recebeu a visita de uma consultora de moda da instituição e estranhou a linguagem. "Ela falou: tem que dar uma arrumada na vitrine e colocar moda retrô", conta. A palavra "retrô" era novidade, mas foi ficando mais clara à medida que a visitante deu exemplos, preparou um desfile e separou três pares de sapato do estilo, antes esquecidos entre tantos outros, que venderam rapidamente uma vez expostos na vitrine.
Ociosidade
A Rua Riachuelo já foi o principal trajeto norte-sul da cidade e foi importante trecho comercial, hospedando hotéis, comércio e serviços próximos ao antigo palácio do governo. No decorrer dos anos, o desenvolvimento da cidade migrou para outras regiões e a rua foi perdendo valor comercial, chegando nos anos 90 degradada. Um levantamento feito pelo Sebrae aponta que 40% dos imóveis do local estão desocupados.
As obras que pretendem atrair novos investimentos e moradores para a Riachuelo devem começar na primeira metade de agosto a prefeitura no momento está fazendo a licitação do projeto estimado em R$ 1,5 milhão. A prefeitura também estuda benefícios fiscais e tributários para atrair negócios interessantes ao projeto de revitalização da região.
Essa reforma pode ser entendida como a segunda etapa de um projeto maior, iniciado na restauração do antigo Paço Municipal, que deve se estender até a rua Barão do Serro Azul. "Já imaginávamos que o Paço seria importante para ajudar nos projetos de mudança e requalificação do uso daquela região. A parceria com a Fecomércio foi muito prática. Ela assumiu o Paço, e hoje já se percebe que o novo prédio trouxe melhorias para o comércio da área", diz o administrador da Regional Matriz de Curitiba, Omar Akel. "A partir daí, entrou fortemente o Sebrae, que montou um diagnóstico da região e elencou quatro principais eixos de vocações existentes e prioridades para desenvolvimento econômico", explica.
Shopping
Foi o Diagnóstico do Ambiente Econômico e Empresarial do Paço da Liberdade elaborado pelo Sebrae que identificou o enorme fluxo de pessoas que trafegam entre o marco zero da cidade em direção ao shopping Mueller. "Na Riachuelo, que fica imediatamente abaixo desse fluxo de pessoas, existe uma zona fria, sem movimentação de pedestres", diz a consultora de projetos de varejo do Sebrae, Walderes Bello, que coordenou o diagnóstico.
O projeto proposto pelo Sebrae usa o conceito de shopping a céu aberto, unindo serviço, entretenimento, alimentação e comércio, com a valorização do patrimônio arquitetônico de Curitiba. "Por isso estamos usando o conceito de espaço com todas as atratividades de um shopping, porém com muita história", justifica Bello.
Um dos requisitos do projeto é dar um empurrão para a cooperação entre os empresários. O Sebrae iniciou um trabalho de longo prazo de capacitação e consultoria com os lojistas, que por sua vez têm se mostrado animados com a atenção que as ruas têm recebido. No último domingo vários deles mostraram isso participando do evento "Vitrines na Calçada", no qual a rua foi fechada ao trânsito e os produtos foram expostos nas calçadas. O evento atraiu aproximadamente 2 mil visitantes. "Estamos motivados a abrir novamente as portas em outros domingos para repetir essa experiência", afirmou Chaim Jader, vice-presidente da associação de moradores e lojistas da rua. Uma nova edição do evento já está programada para agosto.