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Norte do Paraná

Londrina já começa a sentir os efeitos da crise financeira

Segmentos mais afetados são os do turismo, revenda de veículos e imobiliário; perfil dos investidores também mudou e as compras à vista ganharam espaço nos negócios

A crise financeira mundial afeta, entre outros segmentos, o de veículos, em Londrina | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
A crise financeira mundial afeta, entre outros segmentos, o de veículos, em Londrina (Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina)

A crise financeira que tem assustado o mundo nas últimas semanas já afeta alguns segmentos econômicos de Londrina, Norte do Paraná. Agências de turismo, revendas de veículos e construtoras sentem o impacto negativo das quedas recordes nas bolsas, que alteraram a oferta de crédito e elevaram o valor do dólar. São setores que viviam um "momento mágico" nas vendas e agora vêem o tamanho dessa onda diminuir.

As agências de turismo, que neste ano registravam um crescimento de até 50%, foram as primeiras a sofrer com o "efeito elástico" da moeda americana. O dólar turismo, que estava em torno de R$ 1,80 antes da crise, chegou a bater em R$ 2,50. "O cliente tinha uma cotação de passagem aérea em US$ 2 mil, que dava em torno de R$ 3,2 mil. De repente, o valor foi lá para cima. Foi um grande susto", comentou a gerente da Albatroz Turismo, Mara Piubelli Figueiredo. Com a cotação atual a R$ 2,20, a passagem ficou 37,5% mais cara. "A diferença é muito grande."

Outro problema é que, com a instabilidade do dólar, o turista fica sem saber quanto irá gastar na viagem. "A maioria dos clientes usa cartão de crédito. O receio é que, quando estiverem na viagem, o dólar volte a subir. Isso gera insegurança. As pessoas que estavam cotizando pacotes, diante dessa instabilidade, resolveram esperar o mercado acalmar", explicou Cristiane Toma, sócia-gerente da KTS Viagens e Turismo.

Como alternativa, as agências tentam vender pacotes internos que, apesar de também estarem mais caros devido à crise, permitem o planejamento dos gastos. "Quem tinha feito orçamento para uma viagem ao exterior acabou desistindo. Mas como as pessoas só tiram férias uma vez no ano e estavam com recurso, a opção foi viajar no Brasil", afirmou Katia Guedes Bereta Mendes, gerente da CVC do Shopping Catuaí. "Vamos voltar a falar de Brasil. Vamos ter que nos adaptar a outros tempos", concordou Mara.

Veículos

A dificuldade também é grande no setor de automóveis, principalmente de usados. "Nunca vi a coisa parar tanto. As pessoas estão realmente assustadas", disse Paulo Vicente da Silva Filho, da PVS Automóveis. "Em agosto, o movimento foi excelente. Mas neste mês ainda não vendemos nada [até o dia 14]. E isso é geral; outros estacionamentos estão na mesma situação." A dificuldade é que a parcela do financiamento ficou mais alta porque a taxa de juros aumentou e o prazo diminui.

Este setor foi onde a reportagem ouviu as maiores reclamações, mas a maioria dos empresários pediu para que suas lojas não fossem identificadas. "As pessoas estão assustadas. Se o mercado acalmar, elas vêm comprar, pois estão com dinheiro. O Natal ainda pode ser bom", ponderou o dono de uma revenda. "Diferente do que acontecia, boa parte da venda está sendo à vista. As pessoas estão fugindo do crédito", disse outro proprietário.

Já o diretor comercial do Consórcio União, José Roberto Luppi, garante que não sentiu o efeito da crise. "A nossa taxa de administração não foi afetada."

Ritmo aquecido dos lançamentos imobiliários dá lugar à cautela

O ritmo aquecido de lançamentos imobiliários em Londrina deve reduzir devido à crise financeira global. As construtoras já repensam a quantidade de lançamentos previstos para este ano e planejados para 2009. Isso acontece não porque deve faltar crédito para o setor, que é oriundo da poupança e do FGTS, mas por insegurança do consumidor frente ao que deve acontecer a curto prazo na economia.

Pertencente ao grupo das maiores construtoras de Londrina, Plaenge e A.Yoshii estão acompanhando o comportamento do mercado para confirmar lançamentos previstos. De sete que a Plaenge iria lançar neste ano (não só em Londrina), apenas três estão confirmados. "Os outros estão em análise. Uma parte dos clientes está esperando um cenário melhor, pois o atual gera insegurança", explicou o diretor-sócio da empresa, Alexandre Fabian.

A A.Yoshii também tinha empreendimentos para lançar neste ano. "Vamos aguardar um pouco para ver como o mercado se comportará", comentou o diretor Leonardo Yoshii. "Vamos continuar com lançamentos. O que estamos avaliando é em que velocidade."

Já o gestor-executivo de Vendas da Regional Sul da MRV, Marcelo Alves, evita confirmar lançamentos para 2009. A empresa lançou cinco empreendimentos na cidade neste ano. "Ainda estamos em planejamento", disse.

O diretor superintendente da FIT Residencial, subsidiária da Gafisa, Newman Brito, também não fala sobre novos lançamentos e diz que o empreendimento que acabou de lançar na cidade, o FIT Filadélfia, deve ser bem sucedido pela taxa de juros obtida. "O grande trabalho nosso foi para a Caixa [banco parceiro] manter as taxas de juros entre 8,09% e 9,11%. Praticamente deve ser o último lançamento com essa taxa", ressaltou.

O presidente do Sindicato dos Corretos de Imóveis de Londrina (Sincil), Antonio Marco Bacarin, também aposta em desaceleração. "A redução é em função do cliente, que está com medo de investir. Os lançamentos devem diminuir até que o mercado se normalize novamente", calcula. Ele acrescenta que os preços dos imóveis não devem cair nem aumentar.

Oportunidade

Se por um lado o setor imobiliário perde clientes devido à crise, por outro tornou-se opção para novos investimentos. "Temos clientes que estão tirando investimentos de fundos e de bancos para colocar em imóveis, que é um investimento seguro", enfatiza Fabian.

Movimentação semelhante é percebida pela construtora Yoshii. "Mudou o perfil do comprador. Estamos fechando mais negócios com investidores, que compram à vista. Estão saindo da bolsa e procurando algo mais seguro", afirma o diretor da empresa.

Vendas de Natal devem crescer menos

As vendas no comércio neste Natal devem ser maiores que as registradas no ano passado, mas com crescimento menor que o planejado. Pelo aquecimento no mercado brasileiro, a previsão era que as vendas natalinas aumentassem 15% em relação a 2007; mas esse índice já está sendo revisto para baixo.

O proprietário das lojas Móveis Brasília, Francisco Ontivero, diz que alguns fabricantes afirmam que manterão os preços e isso ajudará nas vendas. "A preocupação é com a linha marrom, de artigos como televisão, DVDs e celulares, que dependem do dólar", afirma. Questionado sobre um menor crescimento no Natal, ele afirmou que "10% já é um número bom."

A Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), em parceira com outras entidades, já organiza uma campanha incentivar as vendas no final do ano. "A redução [nas vendas] é normal diante de uma crise. Mas se crescermos de 7% a 10%, vamos fechar bem. O que não podemos é tornar a crise maior do que ela realmente é", disse Marcelo Cassa,presidente da Acil.

Indústrias do Município não devem sofrer

Para o empresário e coordenador regional da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Ari Sudan, as indústrias de Londrina não devem sofrer grande impacto nos próximos meses com a crise global porque poucas são voltadas para o exterior. "O momento é de cautela e não há espírito para orçamentos audaciosos. No entanto, se estamos dentro da crise, é preciso destacar que estamos andando na marginal", enfatiza. Já o empresário da indústria de refrigeração Indrell, José Augusto Rapcham, avalia que esse é um bom momento para as indústrias ganharem espaço no mercado interno. "Se o dólar permanecer no patamar de R$ 2, as indústrias ficam mais competitivas."

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