No segundo trimestre deste ano, a Petrobras voltou a ter prejuízos com a venda da gasolina no mercado interno| Foto: Antonio Lacerda/EFE

A Petrobras encerrou o segundo trimestre de 2015 com um lucro líquido de R$ 531 milhões, montante 89,3% inferior ao alcançado no mesmo período do ano passado (R$ 4,959 bilhões). A retração, em proporções maiores do que aquelas esperadas pelo mercado financeiro, tem origem no pagamento de um total de R$ 1,6 bilhão em multas discutidas no âmbito da Receita Federal, na realização de um impairment, com efeito de R$ 1,283 bilhão, e no impacto provocado pela queda nas cotações internacionais de petróleo.

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INFOGRÁFICO: veja a evolução do resultado da Petrobras nos últimos trimestres

Este é o segundo lucro trimestral consecutivo obtido pela Petrobras após o anúncio do prejuízo de R$ 26,6 bilhões no fechamento de 2014. No primeiro trimestre, a estatal reportou lucro de R$ 5,330 bilhões. É, também, o terceiro pior resultado trimestral reportado pela Petrobras na última década, superando apenas os prejuízos acumulados no quarto trimestre de 2014 e no segundo trimestre de 2012.

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Do ponto de vista operacional, o balanço do segundo trimestre mostra semelhanças em relação ao resultado dos três primeiros meses do ano. O petróleo em queda reduziu a receita da estatal e afetou a rentabilidade da área de Exploração e Produção (E&P), efeito mitigado pelo dólar mais favorável às exportações e pelo aumento da produção de petróleo e gás. Por outro lado, o petróleo mais barato tornou as operações de importação de derivados menos adversas, movimento percebido nos números da área de Abastecimento e mitigado pelo desaquecimento do mercado doméstico de combustíveis.

Petrobras investe R$ 36,174 bi no 1º semestre, queda de 12,8%

Os investimentos da Petrobras somaram R$ 36,174 bilhões no primeiro semestre de 2015, montante 12,8% inferior ao desembolsado no mesmo período do ano passado, segundo material de divulgação dos resultados do segundo trimestre da estatal. O mais recente plano de negócios da Petrobras já revelava a intenção da empresa em reduzir o ritmo de investimentos no curto e médio prazos. Entre 2015 e 2019, a Petrobras pretende investir US$ 130,3 bilhões, abaixo dos US$ 220,6 bilhões estimados inicialmente no plano 2014-2018.

O material de divulgação aponta que a maior parte dos investimentos feitos pela Petrobras entre janeiro e junho foi direcionada à área de Exploração e Produção (E&P), com o equivalente a R$ 28,206 bilhões (78% do total). Na sequência aparecem as áreas de Abastecimento, com aporte de R$ 3,747 bilhões (10% do total) no período, e na área Internacional, com R$ 2,048 bilhões (6%).

Como resultado, a receita líquida da Petrobras totalizou R$ 79,943 bilhões no segundo trimestre do ano, queda de 2,9% em relação ao mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado somou R$ 19,771 bilhões, alta de 21,7% em relação ao segundo trimestre de 2014.

Receita Federal

O balanço da Petrobras no segundo trimestre teria sido mais positivo não fosse o efeito bilionário contabilizado no resultado do período. Conforme noticiado pela estatal em julho, os números do segundo trimestre foram impactados por uma decisão desfavorável na esfera administrativa, a qual resultou no pagamento de R$ 1,6 bilhão à Receita Federal. A transação foi feita a partir do pagamento de R$ 1,2 bilhão à vista e R$ 400 milhões com prejuízos fiscais, e o impacto no balanço trimestral, líquido de impostos, ficou em R$ 1,4 bilhão.

A companhia também cita o impacto de R$ 1,283 bilhão decorrente da realização de um impairment de ativos das áreas de Gás e Energia, Abastecimento e Exploração e Produção, em função da exclusão de projetos da carteira de investimentos contemplada no Plano de Negócios e Gestão 2015-2019.

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Além disso, o resultado da linha financeira também foi desfavorável. A estatal registrou uma despesa financeira líquida de R$ 6,048 bilhões no trimestre, pior do que os R$ 940 milhões negativos do segundo trimestre do ano passado.

Semestre

Com a queda do lucro no segundo trimestre, o resultado da Petrobras no acumulado semestral também apresentou variação negativa. A companhia acumulou um lucro de R$ 5,861 bilhões entre janeiro e junho, uma queda de 43,4% em relação a igual período do ano passado. A retração reflete a tendência dos preços internacionais do petróleo, o efeito cambial sobre os dados operacionais da estatal e o pagamento do valor bilionário à Receita Federal.

O material de divulgação publicado nesta quinta-feira pela Petrobras na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também aponta uma queda de 5,8% na receita líquida do semestre, para um total de R$ 154,296 bilhões. Já o Ebitda ajustado somou R$ 41,289 bilhões no primeiro semestre deste ano, expansão de 35% sobre os dados de 2014.

Em 2014

Após cinco meses de atrasos e expectativas, a Petrobras divulgou em abril último o balanço auditado de 2014. A companhia registrou no ano passado um prejuízo de R$ 21,6 bilhões, contra um lucro de R$ 23,6 bilhões em 2013. O resultado negativo se deveu, principalmente, à baixa contábil de R$ 6,2bilhões, referentes a perdas estimadas com corrupção entre ex-funcionários da companhia e fornecedores descobertos pela Operação Lava Jato da Polícia Federal.

No balanço do ano passado a Petrobras ainda fez uma baixa contábil de R$ 44,6 bilhões referentes a prejuízos estimados em vários projetos por má gestão, câmbio, entre outra coisas. Já no primeiro trimestre deste ano.

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Perdas com defasagem

No segundo trimestre deste ano, a Petrobras voltou a ter prejuízos com a venda da gasolina no mercado interno, já que o preço vendido nas refinarias do país pela companhia voltou a ser menor do que a estatal paga no mercado internacional. Isso ocorreu por conta da valorização da moeda americana e também pelo aumento de preços da gasolina no Hemisfério Norte devido ao período de verão.

Segundo cálculos do Centro Brasileiro de infra Estrutura (CBIE), de abril a junho deste ano, a gasolina foi vendida pela Petrobras 6,8% mais barata do que paga no exterior. Já com o diesel, a Petrobras ainda tem margem positiva: a estatal vende no país com um preço 8,6% maior do que compra no exterior.

O economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, acredita que, se continuar a defasagem dos preços da gasolina nos próximos meses, se abre espaço para o governo autorizar um reajuste de preços dos combustíveis ainda este ano. Segundo Thiago, somente em julho a gasolina foi vendida a um preço 8,5% inferior ao mercado internacional, enquanto o diesel ainda estava 16% mais caro.

“Enquanto a Petrobras continua se beneficiando com a venda do diesel, que mantém um cenário favorável de preços, a venda interna de gasolina segue com defasagem, principalmente com o processo de desvalorização do real. O retorno da defasagem do preço da gasolina indica que talvez haja a necessidade de um novo reajuste de preço no combustível até o final de 2015”, destacou Thiago Biscuola.

Atualmente, a defasagem com o preço da gasolina está em 7,3%. Já o óleo diesel está sendo vendido no país cerca de 20,3% mais caro, segundo o CBIE. Mas, na média do primeiro semestre, o preço da gasolina vendida no país ficou 6,6% acima da média dos preços internacionais e o óleo diesel 17,1% acima dos preços internacionais.

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”Estamos satisfeitos com o resultado”, diz Bendine

Apesar do resultado do balanço e a queda no lucro no segundo trimestre, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, se disse satisfeito.

“Estamos satisfeitos com o resultado operacional neste trimestre. Fizemos algumas mudanças, como o lançamento de alguns tributos que incidem no resultado líquido da empresa”, disse o presidente da estatal.

Foram três eventos, segundo Bendine, que afetaram o resultado líquido. Além das baixas contábeis, houve o pagamento de ações relativas ao pagamento de tributos.

“Tínhamos ações relativas de pagamento de IOF entre 2007 e 2010. Não havia provisão para isso. A tese que defendíamos era frágil para continuar por via judicial. O valor dessa ação era de R$ 3,3 bilhão e conseguimos reduzir para R$ 1,6 bilhão. Uma parte foi paga por caixa; e outra, por prejuízo fiscal. Há outras três ações em curso. E assim lançamos provisão de R$ 2,6 bilhões enquanto aguardamos a decisão”, afirmou o presidente da estatal.

O executivo destacou ainda que, ao fazer o plano de negócios, variáveis comprometeram uma série de ativos na área de gás e energia.”Ativos nos quais não conseguimos ter recursos para continuar, nos imputou a cancelar alguns empreendimentos. E por isso hibernarmos esses projetos”, disse Bendine.

Questionado se a Petrobras estava pagando os valores referentes aos processos tributários para o governo aumentar o superávit fiscal, Bendine foi taxativo:”Superávit é um problema do Tesouro. Ninguém está aqui para fazer caixa para o Tesouro. Vamos pagar se for vantajoso.”

Sem “futurologia”

O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, também disse nesta quinta-feira (6) que não existe atualmente previsão para reajuste do preço da gasolina. Ele afirmou, contudo, que “não pode falar do futuro” dos preços.

Bendine disse que o mercado de combustíveis está sendo acompanhado mês a mês pela companhia e que, atualmente, os preços estão favoráveis para a Petrobras em relação ao mercado internacional.

“Estamos sendo recompensados devidamente pelas nossas vendas de derivados. Não tem perspectiva hoje, mas as variáveis mudarem, a empresa pode mudar. Mas não posso fazer futurologia sobre o preço”, afirmou Bendine.

O preço dos combustíveis é um dos fatores sensíveis no balanço da companhia. A área de abastecimento da Petrobras (responsável pelas refinarias) teve 16 trimestres seguidos de prejuízos por vender gasolina a preços inferiores ao mercado internacional. Agora, a operação é lucrativa.

Com a queda do preço do barril de petróleo no exterior e a menor demanda por derivados, a diferença entre o que a Petrobras compra no exterior e vende ficou favorável. O barril de petróleo caiu 31% neste primeiro semestre, para US$ 59,51.