O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegam nesta quinta-feira a Davos, na Suíça, onde está acontecendo o Fórum Econômico Mundial, com uma tarefa difícil: "vender" o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para os líderes internacionais presentes ao evento.
Isso porque os economistas e líderes internacionais pregam reformas estruturais no Brasil, com mudanças nos sistemas de tributos, na previdência e na Justiça, algo que o PAC não contempla.
Ao contrário da primeira ida de Lula ao Fórum Econômico Mundial, em 2003, o interesse no presidente do Brasil parece ter diminuído, já que o país e a América Latina não estão no topo da lista de prioridades dos investidores. "A expectativa com a vinda de Lula é menor, pois toda a atenção aos países emergentes está voltada para a China e a Índia, e o Brasil está ficando para trás", comentou o diretor-executivo do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Charles Dallara.
Durante o debate inicial sobre a economia global, o Brasil e a América Latina não foram citados nem uma vez por economistas de renome mundial. A região só veio à tona em outro painel, mais voltado para a questão da desigualdade, no qual a América Latina foi citada como exemplo de má distribuição de renda, a ser evitado por outras regiões. Fora do mapa
O PAC, que promete investimentos de R$ 503,9 bilhões em obras de infra-estrutura nos próximos quatro anos, ainda é pouco conhecido pelos participantes do Fórum Econômico Mundial. Dallara, por exemplo, não sabe o conteúdo do plano, mas diz que "a chave para o Brasil acelerar a sua economia é reforma fiscal, a reforma da Previdência, a redução do papel do governo na economia e uma maior abertura".
O presidente do Banco Central do México, Guillermo Ortiz, disse que não sabia nada do conteúdo do PAC, mas elogiou a disposição de Lula de acelerar o crescimento. "Esta deve ser de fato a principal preocupação de países como o Brasil e o México."
Há um visível sentimento de frustração entre os latino-americanos sobre a pouca atenção dada à região, apesar de alguns painéis e debates voltados para ela. "A América Latina sumiu do mapa; um dos temas do encontro é a migração do poder para as economias emergentes, mas eu acho que esta migração é só para uma parte delas, a asiática", comentou Ortiz.
O problema básico é que a América Latina, e especificamente o Brasil, estão ficando para trás em ritmo de crescimento econômico. Os economistas em Davos falam em taxas de 8% a 10% de crescimento para países emergentes como China e Índia como a coisa mais natural do mundo, enquanto no Brasil um ritmo de 5%, apesar de desejado pelo governo, é visto como quase inatingível por grande número de economistas. Reformas estruturais
Na opinião de um graduado executivo de um banco europeu que participa do Forum, o PAC é insuficiente para levar o Brasil a crescer 5%. "Não é um pacote de reformas econômicas, mas apenas um conjunto de medidas com efeito limitado", disse a fonte. "Para chegar a 5% são necessárias reformas estruturais, principalmente na Previdência, e outros cortes nos gastos correntes, algo que não está sendo sinalizado pelo governo brasileiro.
A Argentina e a Venezuela, que estão crescendo em ritmo chinês, também não mereceram até agora nenhuma atenção especial, talvez porque o ritmo seja percebido como insustentável. "A opção da Argentina não vai funcionar no longo prazo, e a Venezuela está afugentando os investidores", disse Dallara.
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