Aposta precipitada numa recuperação em "V" da economia mundial ou o início de um ciclo de alta realmente sustentável das ações? Diagnósticos distintos de analistas sobre o rali do Ibovespa em 2009 permeiam o mercado brasileiro, um ano depois do agravamento da crise global.
Embora seja quase consenso que a volatilidade no mercado acionário seguirá uma faixa mais estreita no médio prazo --outra forma de dizer que altas ou baixas acentuadas estão fora do script--, o vão entre otimistas e céticos parece estar ficando cada vez maior, à medida que a bolsa atinge novas máximas em mais de 13 meses.
O primeiro time inclui apostas de que o Ibovespa vai mais que se recuperar do tombo de 41,2 por cento sofrido em 2008, o maior em 36 anos, diante de dados econômicos e corporativos que chancelem as previsões de que a economia está se levantando de forma sustentada.
É o caso do Credit Suisse, que na semana passada elevou pela segunda vez a projeção para o Ibovespa no final do ano. O banco suíço agora vê o índice em 64 mil pontos em dezembro, ante a faixa de 58 mil pontos nesta sexta-feira.
"Ainda vemos um bom momento até o final do ano e acreditamos que os dados de PIB (brasileiro) no curto prazo podem surpreender positivamente", avalia o banco em relatório, antes da divulgação feita pelo IBGE nesta sexta-feira, apontando que a economia brasileira cresceu 1,9 por cento no segundo trimestre frente ao período de janeiro a março deste ano.
"Está ficando mais sólida a percepção de que a variação do PIB brasileiro em 2009 não será negativa", disse à Reuters o diretor de renda variável do Itaú Unibanco, Walter Mendes. O banco vê o Ibovespa alcançando 62 mil pontos em dezembro.
Segundo Mendes, por ser mais sensível à flutuação dos preços das commodities, o principal índice brasileiro de ações tende a continuar se beneficiando indiretamente do vigor da China, que segue demandando fortemente matérias-primas como aço e metais.
Para ele, um desempenho ainda melhor do Ibovespa pode ser contido por um fenômeno recente, a súbita volta das ofertas de ações, o que pode levar alguns investidores a vender alguns papéis no mercado à vista e usar os recursos para aplicar em novas entrantes.
Em pouco mais de um mês, só de ofertas iniciais (IPO, na sigla em inglês), a fila de pedidos de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) incluiu Banco Santander, Cetip, Tivit, Direcional Engenharia e Brazilian Finance & Real Estate.
Mas em vez de representar um perigo, o apetite de novas empresas pelo mercado de capitais seria para outros analistas um reforço à visão de que a poeira pós-crise baixou em definitivo.
Por isso, alguns já começam a enxergar uma melhora ainda mais acentuada no ano que vem.
"Há uma tendência ascendente clara para o Ibovespa. Está se preparando para um 2010 melhor ainda", disse o diretor da Ágora Corretora Álvaro Bandeira.
No segundo pelotão, minoritário, um cenário de descasamento entre a escalada das bolsas e o comportamento ainda frágil da economia, crédito caro e escasso, desgaste dos incentivos governamentais e soluços de inflação surgem entre os alertas de que o momento pode ser propício para realizar lucro com ações.
"É difícil ver qualquer outra coisa a não ser contínua deterioração, mesmo que em ritmo menor, na demanda e no investimento", comentou a chefe da área de pesquisa da corretora Fator, Lika Takahashi,em relatório no qual previu que o Ibovespa cairá para 51 mil pontos em dezembro.
No ano até o fechamento de 10 de setembro, o índice acumulou valorização de 55,9 por cento.