Uma contribuição do setor externo mais significativa que o esperado e a melhora da indústria ajudaram a economia brasileira a superar a recessão técnica no segundo trimestre e devem levar o mercado a melhorar as estimativas para 2009.
A força do consumo e da indústria não chegou a surpreender, mas ressaltou que a retomada será sólida e compensou a fraqueza dos investimentos. Esse quadro deve ser mantido nos próximos trimestres, mas a taxa de crescimento pode ser menor, já que a base de comparação começa a ficar mais forte.
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9 por cento no segundo trimestre sobre o primeiro, ante previsão mediana de analistas consultados pela Reuters de 1,6 por cento. As estimativas variavam de 0,7 a 2,2 por cento.
Sobre igual período de 2008, houve queda de 1,2 por cento, contra prognóstico de recuo de 1,5 por cento.
"Essa recuperação na margem mais forte que o esperado significa que o PIB pode ficar mais perto de zero em 2009, talvez até positivo, que é o cenário com o qual a gente já vem trabalhando, com expansão de 0,2 no ano", disse Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin.
Na pesquisa da Reuters, das 16 projeções colhidas para 2009, apenas três eram de crescimento, com a mediana apontando retração de 0,5 por cento.
Após a divulgação do PIB, dos mais pessimistas alguns já começaram a rever seus cenários.
Alexandre Lintz, estrategista-chefe no Brasil do BNP Paribas, mudou seu prognóstico de queda de 0,9 por cento para baixa de 0,2 por cento.
Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria, já sabe que vai mudar, mas não sabe para quanto, não descartando a possibilidade de um crescimento.
"O dado de hoje tem um viés bem positivo. Vamos revisar para cima nossa projeção para o ano, na semana que vem." A estimativa atual dele é de retração de 0,6 por cento.
Ele acredita que os prognósticos do relatório Focus podem melhorar também, mas pouco, pois já está havendo melhora há algum tempo. Nesta semana, o Focus mostrou que o mercado projeta retração de 0,16 por cento
Força Interna
Apesar de a surpresa do segundo trimestre ter vindo sobretudo do setor externo --as exportações cresceram 14,1 por cento sobre o primeiro trimestre e as importações avançaram 1,5 por cento--, o otimismo com o ano baseia-se no mercado doméstico.
"A parte de serviços vem sustentando bem o crescimento. A parte de consumo das famílias vem crescendo forte, em função da massa salarial crescendo", afirmou Flávio Serrano, economista sênior do Bes Investimentos.
O impulso vem da melhora do crédito, da melhora do emprego e da continuidade da expansão da massa salarial, que não chegou a ser afetada significativamente pela crise.
Serrano acredita que no terceiro trimestre poderá apresentar expansão em torno de 1,5 por cento sobre o terceiro.
Outra força veio da indústria, que cresceu 2,1 por cento trimestre a trimestre, após dois trimestres de queda.