O ministro da Fazenda, Guido Mantega, retirou de sua equipe um dos últimos remanescentes da era Antônio Palocci: o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. A demissão dele foi anunciada nesta quinta-feira (31) pelo ministério. A superintendente da 4ª Região Fiscal da Receita (que engloba os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), Lina Maria Vieira, indicada pelo secretário-executivo da Fazenda, Nelson Machado, assumirá o cargo.

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Fontes próximas de Rachid disseram ao Grupo Estado que sua demissão foi um movimento de "natureza política", na linha de uma "limpeza étnica" que estaria em curso nos quadros da Fazenda Antes de cair, Rachid teria passado por um período de "fritura" promovido por Nelson Machado.

"Ele vinha tentando solapar a autoridade de Rachid", disse uma fonte, explicando que Machado teria assumido para si as negociações com os sindicatos dos auditores, contingenciado recursos da Receita para dificultar a gestão do órgão e até realizado reuniões com secretários-adjuntos do Fisco sem que Rachid soubesse. A Fazenda não comentou.

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Segundo fontes, o estado de espírito do ex-secretário seria de muita mágoa com a forma como foi demitido por Mantega. Ele foi avisado na noite de quarta-feira. A demissão foi publicada hoje no Diário Oficial.

Assessores de Mantega negam que tenha havido algum episódio específico ou conflito por trás da mudança na Receita, mas dizem que a nova titular do cargo, Lina Maria Vieira, terá como missão "trabalhar em mais harmonia" com as demais áreas da equipe econômica. Uma das principais queixas de técnicos do governo é a de que a Receita é muito fechada e que muitas vezes há dificuldades para conseguir informações.

Essa reclamação vinha sendo feita não só por outros ministérios, como Planejamento, mas também por funcionários da própria Fazenda. "O ministro quer uma secretaria mais proativa, que apresente alternativas para as emendas de desoneração tributária", disse uma fonte.

Segundo essas fontes, o principal motivo da mudança foi o fato de que o secretário afastado, Jorge Rachid, era o último integrante da equipe econômica que assumiu no início do governo Lula e vinha sendo substituída aos poucos desde a posse de Mantega. Além disso, Rachid é considerado no PT um sucessor do pensamento mais conservador do ex-secretário Everardo Maciel, que se opunha à proposta dos petistas de tornar o Imposto de Renda mais progressivo.

Com a saída de Rachid, só outro integrante da era Palocci, Bernard Appy, ligado historicamente ao PT, continua com Mantega, embora tenha sido removido da estratégica Secretaria de Política Econômica (SPE) para assumir uma secretaria extraordinária que vai cuidar de reforma tributária.

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A saída de Rachid, dizem assessores de Mantega, só não ocorreu antes porque a Receita passou por um processo de reorganização interna, com a incorporação do setor de arrecadação da Previdência Social.

A nova secretária, Lina Vieira, também é da carreira da Receita, mas tem maior interlocução com a cúpula do governo. Ela foi secretária de Fazenda da governadora Wilma Faria (PSB), do Rio Grande do Norte e coordenou o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

Ela é considerada uma boa técnica e administradora. Mas também atribuem à nova xerife dos impostos um temperamento difícil. Além disso, ela poderá enfrentar problemas na Receita porque deu um salto muito grande na carreira, saindo de uma superintendência, cargo de natureza operacional, para ocupar o posto máximo da instituição, que tem um caráter mais de formulação. "Ela não era nem coordenadora, ou secretária-adjunta O pessoal da Receita dá muito peso à hierarquia. O caso dela é como se um major fosse de repente mandar nos coronéis", afirmou uma fonte.

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