As taxas cobradas pelas matrizes dos bancos estrangeiros às filiais brasileiras na obtenção de crédito estão mais baixas do que as exigidas pelas mesmas instituições em ramais instalados em países considerados pares ao Brasil e até mesmo dos que dispõem de uma economia considerada desenvolvida. Esta constatação foi feita pela Agência Estado com um grupo de cinco instituições de origem norte-americana, européia e asiática e que não terão seus nomes revelados por se tratar esta de uma informação estratégica. No grosso das transações, a AE apurou que as variações cobradas ao Brasil giram próximo de 3,5% mais a Libor, contra taxas ao redor de 6% verificadas em outras praças - na manhã desta sexta, a Libor overnight, em dólar, estava em baixa, a 3,25% de 3,84375% de ontem. Algumas das instituições consultadas informaram que não conseguiram tomar crédito ontem, independente do custo da linha. "Como os fluxos estão interrompidos, esta é uma das poucas coisas que ficam", salientou um economista.

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Essa diferença destaca o Brasil em meio a esse contexto de volatilidade internacional e dificuldade de precificação de ativos, segundo os profissionais consultados. Mesmo com a queda verificada do risco Brasil - atualmente na casa dos 270 pontos após ultrapassar os 300 pontos - este indicador não tem sido mais sinônimo de referência para os negócios. O mesmo vale para o Credit Default Swap (CDS). Assim, uma referência considerada mais fiel ao retrato do momento atual seria o custo dessa tomada de crédito, em que há necessariamente dinheiro em jogo. "Certamente, se a mesma matriz quiser emprestar dinheiro para a filial na Argentina, por exemplo, exigirá o dobro da taxa", comentou uma fonte, referindo-se à situação econômica menos estável do país vizinho.

"Hoje (19) fechamos uma operação a 6,70% (já contando com a variação da Libor), foi uma ótima negociação", avaliou outra fonte consultada, lembrando que os mercados estavam bem mais tranqüilos hoje ante ontem. Em meio a tanta volatilidade, escassez de liquidez e necessidade de recursos em todo o mundo, algumas filiais brasileiras já começam a sentir a pressão da variação recente da Libor nas tomadas de linha. Para se ter uma idéia, há um mês, a taxa Libor em dólar estava em 2,4% e, no últimos dias tem rodado em 3,2% (na manhã de hoje estava em baixa, a 3,25% de 3,84375% de ontem). A forte oscilação, evidentemente, não fica restrita a esse mercado. No mesmo período, a taxa de juros em dólar do swap cambial passou de um patamar de 3% a 4% para 10,8% entre esta quinta e sexta, a tendência é de forte baixa, com variação próxima de 6%. "O mercado de Libor está maluco", resumiu um profissional. "Meu custo subiu uma vez e meia. A maior alta foi das linhas de curto prazo", comentou outro operador. Como a pressão altista não é vista apenas no Brasil, se aqui a taxa total já sobe, nas demais praças ela também já avança, mantendo a diferença entre as regiões.

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Para o diretor de renda fixa da Unibanco Asset Management (UAM), Alexandre Mathias, esta é hoje uma das melhores formas de se ver como o País está passando por esta crise, já que a precificação confusa de outros ativos por conta do aumento da aversão ao risco não permite uma avaliação tão fiel da situação econômica dos países. "Estas linhas estão mais baixas para o Brasil porque a percepção de risco com o Brasil e os fundamentos estão melhores aqui", argumentou. "Se tudo continuar como está, o Brasil tende a se recuperar mais rapidamente dessa crise do que outros países".

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