A decisão do governo americano em dispor de "centenas de bilhões de dólares" num fundo para comprar dívidas podres de instituições financeiras e a decisão da Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM norte-americana) de proibir temporariamente as vendas a descoberto, ação também adotada por Reino Unido e Austrália, geraram grande euforia nos mercados internacionais e fizeram o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) disparar 9,57%, na maior alta desde 15 de janeiro de 1999, quando ocorreu a desvalorização cambial. Além disso, a atuação do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, com o leilão de US$ 500 milhões, fez o dólar cair 5,13%. Para analistas, no entanto, é cedo para avaliar se o alívio desta sexta-feira (19) se sustentará na segunda-feira.
Durante o pregão, o principal índice acionário brasileiro oscilou entre a mínima de 48.424 pontos e a máxima de 53.168 pontos, fechando aos 53.055,4. Com os ganhos desta sexta, a Bolsa acumulou elevação de 1,26% na semana e reduziu as perdas de setembro para 4,71% e as de 2008 para 16,95%. O giro financeiro somou R$ 7,670 bilhões.
Em Wall Street, o Dow Jones terminou em alta de 3,35%, aos 11 388,44 pontos, o S&P em alta de 4,02%, a 1.255,07 pontos, e o Nasdaq, em alta 3,40%, aos 2.273,90 pontos. Mas os ganhos no maior mercado do planeta foram tímidos em comparação à irracionalidade que se viu na maioria das bolsas mundiais.
A Bolsa de Hong Kong, por exemplo, atingiu seu maior ganho em oito meses, com o índice Hang Seng disparando 9,6%, para 19 327,72 pontos. Na Rússia, as ordens de compras levaram as operações serem interrompidas por uma hora na Russian Trading System (RTS), principal mercado acionário do país, depois que o índice havia subido 20%.
Na Europa, a Bolsa de Londres fechou com valorização de 8,84% - com alta de 431,3 pontos, a maior em 20 anos -, a Bolsa de Paris subiu 9,27% e a Bolsa de Frankfurt ganhou 5,56%. Como era de se esperar, as ações do setor financeiro assumiram a dianteira nas bolsas.
Também contribuíram para essa euforia o anúncio do plano do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) para recomprar obrigações de dívida relacionadas às agências Fannie Mae e a Freddie Mac de certas instituições financeiras e o programa do Departamento do Tesouro dos EUA para garantir ativos dos fundos mútuos do mercado monetário.
As medidas levaram os investidores a se aventurarem pelo mercado acionário, muitos dos quais para zerar perdas recentes enquanto outros se animaram a tomar um pouco de risco. Assim, as bolsas subiram bastante não só no primeiro mundo como também nos emergentes, e ativos como as commodities fecharam em alta. Na Nymex, o contrato de petróleo para outubro avançou 6,81%, a US$ 104,55.
Na hora certa
Depois de se aproximar de R$ 2 na véspera, nesta sexta o dólar engatou um movimento de queda desde o início dos negócios motivado, principalmente, pelo noticiário externo. O dólar pronto no balcão encerrou o dia com queda de 5,13%, a R$ 1,8310. Internamente, a contribuição para o movimento de apreciação do real veio em dois leilões do BC que somaram US$ 500 milhões. A operação foi a primeira realizada desde fevereiro de 2003.
O operador de uma grande corretora disse que a decisão do BC em voltar ao mercado para prover liquidez não foi antecipada, conforme alguns analistas consideraram ontem. "O BC tomou um decisão em cima do cenário que tinha. Não dava para saber que hoje o mundo ia acordar com a notícia de ajuda dos BCs internacionais. A decisão do nosso BC não foi precipitada. Ele (BC) está olhando o mercado interno, ele tem que agir em função do mercado interno", afirma.
Já os juros futuros corrigiram parte das altas vistas nos últimos dias ao terminarem em queda significativa, especialmente as de longo prazo que recentemente têm sofrido com movimentos expressivos de zeragem de risco em carteiras. O DI janeiro de 2010 manteve-se na liderança do giro, com 327.855 contratos negociados, e desabou de 15,30% para 14,83%. O DI janeiro de 2012 (112.720 contratos) cedeu a 14,51%, de 15,32% ontem. Na última sexta-feira, estes DIs fecharam respectivamente em 14,64% e 14,14%.
Até quando?
Apesar da euforia desta sexta, passado o final de semana e os ânimos mais calmos, há quem preveja uma realização de lucros nos ativos, principalmente porque ninguém ainda acredita que o fim da crise global está à porta. O economista-chefe do Conference Board, Ken Goldstein, por exemplo, considerou que as medidas deram tempo ao governo dos Estados Unidos. "Já há alívio imediato no mercado, mas a questão que emerge é se esta melhora vai continuar no longo prazo", disse, em entrevista à Agência Estado.
A opinião é compartilhada por um analista de renda variável de um banco em São Paulo, para quem a tendência de baixa ainda não mudou para a Bovespa. "Pode ser que ainda ocorram alguns pregões de ganhos, mas há um ponto de resistência forte nos 55 mil pontos", apontou. Hoje, nenhuma ação do Ibovespa fechou em baixa.
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