A queda de 7,1% no volume de vendas de veículos e motos, partes e peças em janeiro ante dezembro foi influenciada pelas recentes medidas macroprudenciais anunciadas pelo governo, que levaram a um cenário de restrição na oferta e na disponibilidade de crédito no mercado brasileiro. A análise é do economista Reinaldo Pereira, da Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pereira lembrou que o preço de veículos conta com alto valor agregado e que o brasileiro recorre, historicamente, a financiamentos para comprar carros. No entanto, as medidas do governo inibiram a disponibilidade de oferta de crédito no mercado e acabaram por conduzir a uma redução no número de parcelas ofertadas pelos vendedores. "Isso inibiu o consumidor. Antes ele conseguia comprar um carro por um número maior de parcelas em um financiamento", resumiu o especialista. Para ele, o setor, entre as dez atividades de comércio pesquisadas pelo IBGE, é o que melhor representa o impacto das medidas do governo no consumo do brasileiro.
Mais cedo, o IBGE informou que as vendas do comércio varejista subiram 1,2% em janeiro ante dezembro, na série com ajuste sazonal. Na comparação com janeiro do ano passado, as vendas do varejo tiveram alta de 8,3% em janeiro deste ano. Nos 12 meses encerrados em janeiro, as vendas do varejo acumulam alta de 10 7%.
Alimentos e bebidas
A alta de 1,2% no volume de vendas do setor de Hiper, Supermercados, Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo em janeiro ante o mês imediatamente anterior representa uma recuperação, já que as vendas desse segmento em dezembro caíram 0,4% ante novembro. Para Pereira, o consumidor em janeiro continuou com apetite para o consumo, mesmo com o susto originado do avanço da inflação no fim do ano passado.
Ele lembrou que a queda no volume de vendas de Hiper e Supermercados em dezembro, em base mensal, refletiu a cautela do consumidor brasileiro devido às elevações expressivas de preços, principalmente no setor de alimentos. No entanto, no começo deste ano, o brasileiro parece disposto a consumir gêneros alimentícios mesmo com os preços ainda relativamente em alta.
"Temos aí um cenário que conta com uma inércia do bom cenário do ano passado, quando tivemos aumento de renda, estabilidade de emprego. No primeiro mês do ano, isso não mudou e alimentação é um gênero de primeira necessidade", disse. "O consumidor pode achar que algo está caro, mas faz suas substituições, troca de marca, procura preços mais baixos onde eles estiverem - mas não deixa de consumir", resumiu o especialista.