A economia do Brasil está voltando ao normal e não precisa mais de tantos estímulos fiscais, disse neste sábado o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Meirelles afirmou à Reuters que o plano do governo de dar fim a cortes de impostos e isenções fiscais para combater a recessão na maior economia da América Latina é apropriado.
"Acho que é uma medida apropriada, a economia brasileira está agora fora da crise", disse ele na saída do Fórum Econômico Mundial, em Davos.
"Estamos caminhando rumo a uma situação vista como normal e acho que esse é um momento apropriado para retirar estímulos fiscais."
O Brasil deixou uma recessão de seis meses no ano passado antes de muitas economias desenvolvidas. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, saltou 83 por cento em 2009, enquanto o real valorizou-se 34 por cento.
Meirelles disse que o Banco Central está avaliando se elevar o nível do compulsório de bancos é pertinente, medida que reduziria a quantidade de liquidez disponível.
O BC reduziu o nível do compulsório durante a crise, medida que deve expirar no final de março.
Outras opções na pauta são manter a exigência dos depósitos bancários em seu atual nível, levá-los ao patamar pré-crise ou mesmo elevar o compulsório futuramente, acrescentou Meirelles.
"Não há nenhum compromisso com um caminho ou outro: voltar ao nível anterior, mantê-lo no patamar atual ou aumentá-lo um pouco. Não há nenhum compromisso e nós analisaremos isso no devido tempo."
O Banco Central manteve a Selic, taxa básica de juros, em 8,75 por cento ao ano, por decisão unânime tomada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em 27 de janeiro. A autoridade monetária, contudo, deixou a porta aberta para um aumento do juro nos próximos meses.
O comunicado de janeiro, elaborado pelos formuladores de política monetária, omitiu referências anteriores sobre a manutenção da capacidade instalada das indústrias e um cenário inflacionário benigno, o que alimentou especulações de que o BC pode elevar a taxa já no início de março.
Uma forte alta nos preços das commodities e expectativas de um crescimento de 5 por cento ou mais neste ano estão alimentando temores de uma pressão inflacionária, embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha dito na sexta-feira que não vê riscos inflacionários.
Meirelles afirmou que ainda não está pronto para tomar uma decisão sobre seu futuro no BC, em meio a especulações de que ele possa concorrer a um cargo político.
"Como um presidente de banco central disciplinado, tomo decisões na hora certa", disse, e isso deve ocorrer até o fim de março.
Perguntado se gostaria de ser o vice-presidente de Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles respondeu: "Estou honrado por esse tipo de menção sobre meu nome, mas não estou trabalhando com esse fim."
O presidente de Banco Central há mais tempo no cargo da história do Brasil tem repetido que está considerando concorrer a um cargo público, e filiou-se ao partido de centro PMDB, em setembro do ano passado, com o objetivo de manter essa opção em aberto.
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