Dessa forma, as baixas taxas de inflação que devem ser observadas nos próximos meses não podem ser ainda creditadas ao aperto monetário em curso, nem podem ser consideradas resultado de uma mudança estrutural no cenário para o ano.
O IPCA de maio registrou variação de 0,47%, desacelerando em relação ao IPCA-15 do mês (0,70%) e ao IPCA de abril (0,77%), em linha com a mediana das expectativas de mercado. Com isso, a inflação oficial acumula alta de 6,55% em 12 meses, acelerando em relação aos 12 meses encerrados em abril (6,51%), a mais elevada variação nesta base desde julho de 2005.
O recuo da inflação na margem partiu principalmente do grupo transportes (-0,24% ante 0,93% no IPCA-15 do mês), sob influência da deflação do álcool (-11,34% ante 0,01%) e desaceleração da gasolina (0,85% ante 5,30%). Além disso, os preços administrados reduziram-se significativamente (0,55% ante 1,22%), com a saída de reajustes importantes, como os de medicamentos, energia elétrica e cigarros.
Apesar da queda da taxa de inflação, o resultado de maio não foi tão favorável como pode parecer à primeira vista, dada a piora na margem da média dos núcleos (0,59% ante 0,56%), que tentam expurgar oscilações sazonais e pontuais típicas dos índices de inflação. Destaca-se que o quadro de maio núcleos acima da inflação cheia deve se intensificar em junho e julho. De fato, nesses meses deve haver forte arrefecimento das taxas de inflação.
Todavia, tal perspectiva reforça o entendimento de que a melhora no cenário de inflação no curto prazo será pontual, uma vez que está sendo influenciada em grande medida pela devolução de choques pontuais de oferta, notadamente os combustíveis e os alimentos in natura. Isso é corroborado pelos cálculos dos núcleos de inflação do IPCA, que apontam alta nas medidas que desconsideram esses itens.
Dessa forma, as baixas taxas de inflação que devem ser observadas nos próximos meses, apesar de proporcionarem algum alívio para o cenário inflacionário, não podem ser ainda creditadas ao aperto monetário em curso, nem podem ser consideradas resultado de uma mudança estrutural no cenário para o ano. A melhora nesses meses vai refletir, na verdade, devoluções pontuais de choques de oferta, e será resultado imediato da sazonalidade típica do IPCA. Após esse período, contudo, a inflação deve voltar a causar preocupação, sendo imperativa a não interrupção das políticas de combate à inflação.
Finalmente, caberia destacar que a tendência para o ano como um todo é de que a inflação fique bastante próxima do teto da meta (6,5%), desde que as políticas de contenção da demanda agregada, empreendidas pelo Banco Central nos últimos meses, especialmente a política monetária, sejam mantidas. Neste sentido, cabe ao Banco Central a ingrata tarefa de promover o ajuste entre a demanda (ainda acelerada) e a capacidade de oferta de bens e serviços, fortemente limitada, entre outros fatores, pelas condições vigentes no mercado de trabalho brasileiro.
Thiago Curado é analista da Tendências Consultoria Integrada. Marcelo Curado é doutor em Economia pela Unicamp e professor do Departamento de Economia da UFPR.