O provável anúncio pelo governo de uma meta fiscal que prevê déficit de R$ 160 bilhões para 2017 deve dificultar, na avaliação de analistas, a estabilização da relação entre a dívida pública e o PIB — importante indicador de saúde das finanças públicas. Isso porque, com um rombo maior, a expectativa é que os juros demorem mais a cair, já que o Banco Central contaria menos com o ajuste fiscal para combater a inflação.
Quanto maiores os juros, mais rapidamente cresce a bola de neve da dívida e maiores os impactos sobre a já combalida economia brasileira. Ou seja, a postergação da esperada redução da taxa básica afetaria o indicador duplamente: aumentando o montante a ser pago e esfriando a capacidade de crescimento do país.
Segundo cálculos do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, um déficit desse porte faria a dívida como proporção do PIB chegar a 82% no fim do ano que vem. Se o resultado das contas públicas ficasse negativo em R$ 100 bilhões, como projeta o especialista, a dívida seria de 80%.
“Cenário pessimista”
Vale não está sozinho. De acordo com o mais recente boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, os principais economistas do mercado financeiro previam, até 1º de julho, déficit primário de 1,5% do PIB em 2017, o que dá aproximadamente os R$ 100 bilhões previstos pelo analista.
“Com déficit de R$ 160 bilhões teríamos um resultado primário negativo em 2,4% do PIB, praticamente repetindo o número deste ano. Isso é muito ruim, não me parece razoável a essa altura do campeonato”, avalia o economista, que já conta com a Cide, tributo que incide sobre a venda de combustíveis, como parte do ajuste.
A visão é compartilhada por Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners. Ele afirmou que a meta mais pessimista abre espaço para mais gastos. Em suas simulações, se a previsão de déficit do governo fosse de R$ 100 bilhões, o resultado de 2017 ficaria em R$ 94,7 bilhões. Com uma meta de R$ 150 bilhões, cenário mais pessimista traçado pelo analista, o rombo saltaria para R$ 134,7 bilhões, ou 2,03% do PIB. A meta de R$ 160 bilhões teria efeito pior.
“Se o déficit primário fosse reduzido para 1,4% do PIB, poderia, até o fim do primeiro semestre de 2018, estabilizar a dívida em 80%”, diz Velho.
Já o especialista em contas públicas Raul Velloso vê com bons olhos a decisão de prever uma meta de R$ 160 bilhões. Para ele, trata-se de uma opção conservadora, que dá espaço para que o governo possa entregar um resultado melhor.
“É razoável, na base da segurança. Para não mostrar um número que não pode ser cumprido. Se eles aprovarem a emenda (que estipula teto para gastos públicos), a receita, pelo que prevê o mercado cresce 0,8%”, afirma.