O dólar registrou, na sexta-feira, 16, a maior alta diária ante o real desde o fim de 2011 e fechou cotado a R$ 2,39, o maior patamar em mais de quatro anos. Preocupações relacionadas à economia brasileira e ao programa de estímulo dos Estados Unidos favoreceram a alta desvalorização, que levou a moeda americana a encostar nos R$ 2,40.
Dúvidas sobre a política de intervenção do Banco Central no mercado de câmbio também alimentaram a disparada da moeda americana. O dólar à vista subiu 2,09%, maior alta diária desde 23 de novembro de 2011. Também foi o maior nível de fechamento para a divisa desde 3 de março de 2009, quando ficou em R$ 2,41. Na semana, o avanço foi de 5,28%. Esse movimento foi determinante para a elevação dos juros futuros, que passaram a indicar apostas em uma Selic de 10% ao fim do ano, com mais três altas consecutivas de 0,50 ponto porcentual.
"Não seria nada absurdo a gente observar no curtíssimo prazo o câmbio migrando para patamares de R$ 2,40 ou R$ 2,50, mas acredito que BC tem instrumentos para evitar isso, porque ao longo dos anos conseguiu acumular reservas", disse o economista da Tendências Consultoria, Felipe Salto.
Ele acredita que a intervenção feita pelo BC, com ofertas de contratos de swap - operações que funcionam como uma espécie de venda de moeda no mercado futuro, o que ajuda a reduzir a cotação da moeda - que vencem em setembro, é um sinal de que vai operar para manter o câmbio em torno do equilíbrio. Salto trabalha com projeção do dólar a R$ 2,25 no fim do ano, ainda que ocorram oscilações para cima no curto prazo.
Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, procurou dissipar o pessimismo do mercado. Disse que o câmbio mais desvalorizado beneficia a indústria. Reconheceu, porém, que a volatilidade não beneficia a economia e deve ser combatida. As declarações foram interpretadas por parte dos investidores como sinal favorável à desvalorização do real, o que elevou a pressão no câmbio.
Para o diretor da GO Associados, Fabio Silveira, a disparada do câmbio é reflexo do desequilíbrio do setor externo brasileiro, provocado pela queda dos preços de matérias-primas, combinado à crença do mercado na recuperação dos EUA. "A valorização do câmbio é uma mudança estrutural", disse o economista, para quem a mudança deve durar pelo menos até 2014. Segundo ele, o mercado acredita que os EUA vão crescer e, por isso, os capitais estão migrando dos países emergentes para a compra de títulos do Tesouro americano.
Para Silveira, o mercado está testando os limites do câmbio. "O Banco Central não vai dormir no ponto", disse ele, fazendo referência às operações de venda de dólar pela autoridade monetária. Ele diz que, levando em conta os parâmetros atuais da economia brasileira (inflação, saldo comercial e juros), o limite de alta do câmbio estaria entre R$ 2,40 e R$ 2,50. "Mas, se houver alguma alteração desses vetores, a taxa de câmbio pode ser maior."
Embora o BC tenha concentrado sua atuação em ofertas de swap cambial tradicional, alguns analistas acham que apenas intervenções no mercado à vista conseguirão segurar o dólar. "As empresas não têm interesse em swap com o dólar neste nível, então quem está comprando os contratos são os especuladores. Além disso, o mercado à vista está sem liquidez. A pressão vem daí", afirmou o diretor da NGO Corretora, Sidnei Nehme.