O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (10) que os países precisam construir um sistema financeiro mais transparente e imune às "aventuras" do capital especulativo. Em discurso no Palácio Quirinale, em Roma, onde foi recebido pelo presidente italiano, Giorgio Napolitano, ele disse que é preciso vontade política para acabar com a crise financeira mundial. "Os governantes precisam entender que precisamos ouvir menos analistas de mercado e mais analistas de problemas sociais, de desenvolvimento e que conhecem as pessoas", disse.
Sob o olhar de Napolitano, um ex-comunista, que demonstrou surpresa e satisfação com a parte de improviso do discurso, Lula disse ainda que os países em desenvolvimento precisam ser mais ouvidos nos fóruns internacionais. "Penso que essa crise é uma oportunidade extraordinária para fazermos uma reflexão de tudo que fizemos de errado a partir do Consenso de Washington e criarmos outro consenso em que o ser humano, o trabalhador, a produção agrícola e industrial e a produção cultural, científica e tecnológica sejam a razão de ser da economia e não a especulação financeira", salientou.
Em seu discurso, o presidente brasileiro disse que Brasil e Itália têm histórias e culturas que se entrelaçam, lembrando a imigração italiana no final do século XIX e início do século XX. "Nossos povos se admiram", afirmou. "Nos reconhecemos uns nos outros e não poderia ser diferente, pois temos hoje no Brasil mais de 30 milhões de descendentes de italianos", completou. Lula ressaltou ainda que o intercâmbio comercial entre os dois países chega a US$ 8 bilhões anualmente.
Giorgio Napolitano, em discurso feito anteriormente, também lembrou da importância dos italianos na formação e desenvolvimento do Brasil e destacou a importância do Brasil no atual contexto. "O Brasil é um protagonista influente nas relações internacionais", afirmou. "Neste momento de crise, o Brasil é um dos principais países emergentes, um baricentro das decisões", disse.
Na tarde desta segunda-feira, Lula esteve na Câmara dos Deputados da Itália, onde se encontrou com o presidente Gianfranco Fini. NEsta terça, o presidente terá encontro com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi. A viagem de Lula a Roma termina na próxima quinta-feira, quando ele será recebido no Vaticano pelo papa Bento XVI. Integram a comitiva do presidente os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores), Nelson Jobim (Defesa), Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Franklin Martins (Comunicação Social).
Depois de passar a noite de domingo para segunda na sede da embaixada brasileira em Roma, Lula e a primeira-dama Marisa Letícia ocuparam uma suíte no Palácio Quirinale, residência oficial do presidente italiano. A construção do século XVI já foi residência de papas e reis.