A alta acumulada pelas cotações do dólar nos últimos dias tem compensado o tombo sofrido pelas commodities e até elevado o preço de alguns produtos em relação a semanas anteriores. Enquanto o índice que calcula o desempenho de todas as commodities, o CRB, registra queda de 4,5% no ano, a cotação da moeda norte-americana acumula alta de 6,5%.
Embora cause apreensão nas economias de todo o mundo, a crise ainda não teve impacto negativo sobre as cotações de commodities no Brasil. Para o consultor em gerenciamento de risco da FC Stone, Glauco Monte, o efeito real da turbulência só será conhecido em três ou quatro meses.
"No momento, o que vemos é mais um comportamento especulativo. Só teremos uma noção clara dessa crise quando soubermos se ela vai impactar na demanda por mercadorias", analisa. Ele acredita, no entanto, que a turbulência vai frear a tendência altista de algumas commodities, especialmente metálicas e energéticas. "No curto prazo, os preços continuarão positivos, mas não tanto quanto se previa", afirma.
Agrícolas
Mesmo em plena época de definição da safra no maior produtor mundial de grãos, os EUA, e de volatilidade dos preços, as commodities agrícolas têm sentido menos a crise. Apesar de terem seguido a avalanche financeira e registrado perdas de dois dígitos no dia seguinte ao rebaixamento da nota dos Estados Unidos, as cotações semanais da soja acumulam queda de apenas 2% na Bolsa de Chicago. Na mesma comparação, as perdas do petróleo chegaram a 4%.
Glauco Monte explica que esse comportamento está ligado ao aperto no quadro de oferta e demanda. "Temos estoques apertados e expectativa de redução da produção norte-americana. Isso segura as cotações dos grãos", diz.
Por enquanto, a queda nos preços dos produtos agrícolas não preocupa o setor produtivo do Paraná, que apenas mudou suas estratégias de comercialização diante das turbulências no cenário internacional. As vendas dos grãos, que estavam sendo realizadas em reais no mercado disponível, agora são travadas com base no mercado futuro.
"Os preços caíram, mas, como o dólar futuro voltou a ficar acima de R$ 1,70, conseguimos ganhar R$ 2,60 a mais por saca [60 quilos]. No fim, a alta da moeda americana tem funcionado como proteção às baixas nos preços da soja e impedido o impacto negativo em nossas vendas externas", conta Mário Filizzola Costa, operador de mercado da cooperativa Castrolanda, dos Campos Gerais.
O presidente da Associação Brasileira de Agronegócio, Carlo Lovatelli, também acredita nos fundamentos positivos do setor e concorda que o dólar tem salvado o setor. "Poderíamos estar em situação mais complicada. Como há previsão de aquecimento da demanda, acredito que a comercialização da próxima safra não será comprometida", disse ontem, em evento em São Paulo.
Colaborou Luana Gomes.