Concedido anualmente com pompa e alarde, o prêmio Nobel de Economia não é, porém, um Nobel genuíno. Diferentemente das outras cinco categorias, a láurea econômica não constava do testamento deixado pelo inventor sueco da dinamite, tendo sido forjada pelo banco central da Suécia em 1968 - seu nome oficial, aliás, é Prêmio de Ciências Econômicas do Sveriges Riksbank em Memória de Alfred Nobel.
Antes de sua morte em 1895, Nobel deixara o desejo de que sua fortuna financiasse premiação dedicada àqueles que contribuíssem com significativos "benefícios à humanidade". No texto, Nobel determinava que Paz, Medicina, Literatura, Física e Química seriam as áreas agraciadas. Seu desejo foi respeitado pelos descendentes, e o primeiro prêmio foi concedido em 1901.
Sessenta e sete anos depois, o Sveriges Riksbank, banco central sueco, decidiu comemorar seu tricentenário doando quantia expressiva à Fundação Nobel - o que resultou na criação de um prêmio para a área econômica obedecendo os mesmos critérios de seleção das outras categorias. O valor da premiação soma os mesmos 6,5 milhões de coroas direcionadas às outras áreas, e a cerimônia de premiação é semelhante.
Por causa dessa origem "bastarda" e pela predominância de um perfil liberal entre os ganhadores, o prêmio é o que mais provoca controvérsias. Descendentes do próprio Alfred Nobel já manifestaram publicamente sua indignação com a láurea.
- O prêmio de economia conseguiu se estabelecer e ser concedido como se fosse um Nobel. Mas ele não passa de um golpe de relações-públicas dado por economistas que buscam melhorar sua reputação - disse em 2005 à agência de notícias AFP Peter Nobel, advogado ativista dos direitos humanos que é sobrinho-neto do magnata sueco. - Ele (o prêmio) costuma ser dado a especuladores do mercado financeiro.
Jayati Ghosh, economista indiana de orientação de esquerda, escreveu no "Guardian" em 2009 que "monetaristas e economistas favoráveis ao conceito de livre mercado foram premiados de forma desproporcional, muitas vezes em épocas cruciais." Exceções recentes, ela observou, indicariam que a tendência poderia estar se enfraquecendo neste momento de crise - ela citou os prêmios concedidos na década de 2000 aos americanos Paul Krugman e Joseph Stiglitz, críticos contumazes dos excessos do mercado financeiro.
O colunista do "Financial Times" Samuel Brittan lembrou em 2003 que o próprio Kjell Olof Feldt, ex-ministro das finanças sueco e ex-presidente do Riksbank, advogava o fim do Nobel de Economia. Alguns laureados também já expuseram seu pouco apreço pela existência da láurea. O mais proeminente deles é o austríaco Friedrich Hayek, guru do livre mercado no século passado premiado com o Nobel em 1974, ao lado de Gunnar Myrdal. Embora tenha ficado orgulhoso com seu Nobel, o autor de "O caminho da servidão" disse que "teria certamente se manifestado contra sua criação" se tivesse sido consultado.
- O Nobel confere a um indivíduo autoridade que, em economia, nenhum homem deveria possuir... Isso não é um problema para as ciências da natureza - disse Hayek em seu discurso de agradecimento ao prêmio.