A mudança nas regras do pagamento da fatura mínima do cartão, o crédito rotativo, é vista por analistas como uma medida importante, mas paliativa para a melhora da saúde financeira dos brasileiros. Em janeiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) informou que a partir de 3 de abril os consumidores que adquirirem as dívidas ficarão nela por apenas 30 dias. Depois disso, os bancos terão de oferecer o parcelamento a juros mais baixos ou o a possibilidade de pagamento à vista. Se o correntista rejeitar as duas soluções, ele ficará inadimplente.
O bombardeiro do governo sobre o rotativo tem os seus motivos. De todas as taxas praticadas no país, essa é a mais cara do mercado. Conforme o Banco Central, em dezembro de 2016 ela bateu os 484,6% ao ano (15,85% ao mês). Em contrapartida, o crédito parcelado do cartão fechou novembro em 153,8% ao ano (8,07% ao mês). Com a resolução, que ainda carece de mais detalhes, o governo espera cortar o rotativo pela metade e diminuir o número de pessoas negativadas, que hoje somam 59 milhões de brasileiros, segundo estimativa da Serasa Experian.
Segundo o educador financeiro do Sicredi Vale do Piquiri, Marcio Araújo, o problema hoje é que alguns bancos deixam a dívida do rotativo rolar até o limite. Mas, na hora de renegociar o saldo devedor, o cliente não consegue adquirir um empréstimo mais barato, porque o seu nome está nos serviços de proteção de crédito. “A mudança de regras é uma ação preventiva do governo, para não deixar as pessoas irem até o fundo do poço”, considera.
Caro, mesmo assim
As justificativas para o alto custo da operação são o fato de o crédito ser pré-aprovado e de caráter emergencial, o que oferece mais riscos de inadimplência aos bancos. Diante disso, as taxas elevadas servem para compensar os calores. No entanto, com a nova medida, o analista de instituições financeiras da Austing Ratings, Miguel Santacreu, avalia que os bancos terão menos perdas e reduzirão os custos para a renegociação de dívidas. Ele alerta, porém, que mesmo com a queda, os juros da modalidade ainda continuarão caros. “Mesmo que as taxas diminuam de 15% para 7% ao mês, ainda assim elas serão altas”, afirma ele, ao compará-las com a Selic, a taxa básica de juros, que hoje está em 13% ao ano (1,02% ao mês).
Para que os consumidores escapem das taxas caras, a professora da FGV-Rio e planejadora financeira Myrian Lund recomenda que se evite o mínimo do cartão e se busque por créditos com preços mais amigáveis quando for necessário. “Tudo o que mantém as pessoas na zona de conforto é caro e o rotativo continuará sendo um crédito fácil. Para conseguir taxas menores será necessário negociar”, diz.
Mudança não afetará comportamento do consumidor
A conversão do rotativo do cartão de forma automática em crédito parcelado deverá ter impacto sobre a inadimplência, mas não no comportamento do consumidor, avaliam consultores financeiros.
O objetivo da mudança de regras é ampliar o acesso a empréstimos e reaquecer a economia interna. Mas, para a professora da FGV Myrian Lund, enquanto as compras forem guiadas apenas pelo emocional, as pessoas continuarão a se endividar -- a não ser que haja um esforço para melhorar a educação financeira dos compradores.
Para ela, a queda nos juros da modalidade também não deverá se espraiar para outras linhas crédito. A redução generalizada depende de outros fatores, como a redução da Selic, do risco ao oferecer o crédito, dos custos e dos lucros dos bancos, o spread.
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