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Indústria automotiva

O polo cresceu. Mas continua gelado

Montadora Renault em São José dos Pinhais: polo da Grande Curitiba gerou mais de 20 mil empregos nos últimos 10 anos | Divulgação
Montadora Renault em São José dos Pinhais: polo da Grande Curitiba gerou mais de 20 mil empregos nos últimos 10 anos (Foto: Divulgação)
Veja que o Paraná responde por 11% da produção brasileira de veículos |

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Veja que o Paraná responde por 11% da produção brasileira de veículos

Quando o rádio informou que a General Motors vai investir US$ 1 bilhão (quase R$ 2 bi­­lhões) no Brasil, um taxista que rodava pela Avenida das Torres nem esperou pelo fim da notícia: "Tomara que essa fábrica venha para Curitiba". Logo se desapontou, ao saber que o investimento que a GM anunciou naquela tarde, de 14 de julho, será usado na ampliação da unidade de Gravataí, no Rio Grande do Sul.

Decepções assim não chegam a ser novidade. Na hora de escolher o local de suas novas fábricas, as montadoras têm optado por estados como Bahia, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo. E o Paraná, que no fim dos anos 90 virou a vedete da indústria automobilística brasileira ao atrair investimentos de mais de US$ 3 bilhões, parece ter se resignado em voltar à periferia.

É verdade que, passada uma década desde a instalação das fábricas da Renault e da Volkswagen, em São José, e da "finada" Chrysler, em Campo Largo, o polo da Grande Curitiba exibe um rol de conquistas quase sem paralelos na história econômica do Paraná. Em pouco mais de dez anos, ele se consolidou como o terceiro maior do país. Gerou pelo menos 20 mil empregos diretos e transformou o perfil da indústria estadual, até então dominada por madeireiras e fabricantes de alimentos. Nos últimos três anos, não faltaram anúncios de ampliações e novos modelos, principalmente por parte da Renault/Nissan. E, apesar das várias crises que afetaram uma ou mais montadoras, a produção conjunta do polo cresceu quase sem interrupções, atingindo, no ano passado, o recorde de 360,5 mil veículos – o equivalente a 11% do total nacional, atrás apenas de São Paulo (46%) e Minas Gerais (24%).

Por outro lado, o polo paranaense raramente consegue crescer além da média brasileira. Depois do pico de 12,8% atingido em 2005, sua fatia no bolo nunca mais superou a casa dos 11%. Para quem acompanhou a formação do complexo, esse é apenas um dos indícios de que, apesar da evidente expansão, ele ficou muito aquém de seu potencial – como se, em vez de passar à quinta marcha, se contentasse com a terceira ou a quarta. Além disso, a julgar pelo grau de cooperação entre as mais de 200 empresas ligadas ao setor automotivo na região metropolitana da capital, e pela interação delas com governos, entidades de classe e instituições de ensino e pesquisa, a temperatura do polo continua típica de um inverno curitibano.

"O polo do Paraná tinha todas as condições de ser extraordinariamente bem-sucedido, em especial por sua diversidade. Reúne montadoras de automóveis, máquinas agrícolas, caminhões, ônibus e motores. Mas estagnou. Não se desenvolveu tanto quanto outros polos, até mais recentes, nem sofreu a revolução que ainda ocorre em Gravataí, com a GM, e em Camaçari, na Bahia, com a Ford", diz José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute, que entre 1997 e 2002 prestou consultoria ao Programa Paraná Automotivo, desenvolvido pelo Sindicato da Indústria Metal-Mecânica (Sindimetal-PR) em parceria com o Sebrae e o Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar).

Gelo

O polo não esquentou. E não só por ter sido preterido nas últimas decisões de investimento, mas também porque a chegada de Volks, Chrysler e Renault não gerou um "boom" de novos fornecedores, e pouco mudou a realidade da indústria de peças então existente, surgida na esteira da instalação de Case New Holland (CNH) e Volvo na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), nos anos 70. O propósito do Paraná Automotivo, de qualificar potenciais fornecedores, foi cumprido apenas em parte: das 90 empresas que se inscreveram, menos de 20 conseguiram entrar para a carteira das montadoras.

"O complexo continua relativamente fechado, porque não desenvolveu uma rede regional de fornecimento", diz Gilmar Mendes Lourenço, pesquisador do Instituto Pa­­ranaense de Desen­vol­vimento Econômico e Social (Ipardes) e coordenador do curso de Ciências Econômicas do FAE Centro Universitário. "A maioria dos componentes que equipam os veículos montados no Paraná é fabricada por grandes multinacionais que vieram no rastro das montadoras e por algumas poucas fábricas locais, ou então é trazida de outros estados e países."

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