O economista-chefe do Banco Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, é a mais provável escolha de Michel Temer para assumir a presidência do Banco Central caso o Senado confirme o afastamento de Dilma Rousseff. No BC, ele já foi diretor de Política Econômica entre 2000 e 2003, durante a presidência de Armínio Fraga. Professor do Departamento de Economia da PUC do Rio de Janeiro, Goldfajn emite análises constantes do cenário econômico atual. Saiba o que pensa o provável novo presidente do BC sobre a economia brasileira.
Crise
“Hoje, as crises política e econômica se realimentam. A situação fiscal é delicada e requer coesão política para adotar medidas firmes, que inevitavelmente desagradarão a poucos (ou muitos) no curto prazo, em prol de um benefício comum difuso, que só surgirá no futuro. Liderança e coesão política aqui são essenciais. Na ausência de condições políticas, a recessão se aprofunda, as receitas do governo caem, e o problema fica maior”.
Ajuste fiscal
“Infelizmente, o ajuste fiscal por meio de corte em despesas discricionárias — as que podem ser manejadas no curto prazo, sem mudanças nas leis — não é suficiente. O Orçamento público é engessado por despesas garantidas por lei, que tendem a crescer no longo prazo. Hoje em dia cerca de 75% do gasto do governo federal são obrigatórios (por exemplo, gastos com Previdência, renda mensal vitalícia, pessoal). Outros 10% estão indexados à receita, como o gasto de custeio em saúde e educação. Menos de 15% das despesas são discricionárias. Se cortar metade dos gastos discricionários, a economia será de apenas 1,2% do PIB”.
Taxa de Juros
“Em algum momento o BC deverá reduzir os juros, ratificando essa trajetória de queda da inflação, provavelmente ainda este ano. Mas não é o caso de reduzir imediatamente (este semestre) os juros, com risco de sancionar otimismos exagerados no mercado. Importante garantir antes a desinflação”.
Reforma previdenciária
“A reforma mais importante é a da Previdência, cujo gasto cresce 0,3% do PIB ao ano, o que não é sustentável. Será necessário aumentar a idade média de aposentadoria (alinhando com a expectativa de vida maior e a capacidade de pagamento) e desvincular o piso do benefício previdenciário do aumento do salário-mínimo (que tem crescido acima da inflação). Para estabilizar os gastos previdenciários como proporção do PIB, seria preciso que a idade mínima de aposentadoria fosse ajustada para 65 anos de idade (hoje, cerca de 35% das pessoas se aposentam por tempo de contribuição com 55 anos) e que o reajuste aos aposentados fosse em linha com a inflação”.
As declarações foram retiradas de trechos do artigo “Euforias no meio da crise”, publicado no jornal O Globo em 05/04/2016 e “A arte de cortar na carne”, publicado no dia 06/10/2015 nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo.