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Do céu ao inferno

O vertiginoso voo de Eike Batista

Em entrevista ao jornal O Globo, em 2010, Eike Batista admitiu com naturalidade que ambicionava se tornar o homem mais rico do mundo, acrescentando que chegar a esse prestigioso pódio era consequência do trabalho. Na ocasião, sua fortuna havia avançado vertiginosamente, deslocando-o do 142º para o sétimo lugar, na lista das maiores fortunas da revista "Forbes", além do posto de homem mais rico do Brasil.

Conhecido por seu faro empreendedor, em várias ocasiões o empresário afirmou que o segredo do sucesso era ter o olhar atento para as oportunidades. Por esse caminho Eike construiu uma imagem de sucesso para si, deixando para trás uma identidade vinculada à ex-mulher Luma de Oliveira, e ao pai, o empresário Eliezer Batista, ex-presidente da Vale e ex-ministro de Minas e Energia de João Goulart.

A voracidade por explorar as oportunidades que identificava talvez explique a ampla diversificação de segmentos das empresas "X", a marca de Eike. Estas atuam em áreas como energia, logística, mineração, carvão, infraestrutura e indústria naval. E tal apetite foi contagiante, a ponto de seduzir investidores. De 2005 a 2012, Eike captou US$ 26 bilhões para as empresas do grupo EBX. Ele nunca escondeu que pretendia criar uma miniVale ou miniPetrobras, mas reconhecia como seu pior erro os "negócios paralelos". O empresário, por exemplo, investiu em companhia de cosméticos, hospital, hotel, catering, entre outras iniciativas fora do alvo principal do grupo.

Nascido em Governador Valadares, em 3 de novembro de 1956, Eike viveu sua juventude na Alemanha, onde vendeu apólices de seguro de porta em porta para sobreviver. De volta ao Brasil, foi para a Amazônia, onde iniciou seu primeiro empreendimento no país: a exploração de ouro. Supersticioso, Eike tem um forte lado místico e escolheu o "X" para batizar suas empresas porque é o símbolo do sol inca: "um bom augúrio". O empresário chegou a explicar a atual má fase por meio de conspirações cósmicas e uma conjunção astrológica desfavorável.

Também desenvolveu um forte lado filantrópico, financiando, por exemplo, a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, além apoiar financeiramente a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Essas iniciativas, chamadas pelos críticos como "filantropia de resultados", aproximou Eike do governo federal e do ex-presidente Lula, que o apontava como modelo de empresário para o Brasil, coincidindo com a visão do próprio Eike, que chegou a afirmar que um dia construiriam uma estátua para ele, devido a seu compromisso com o país.

A autoconfiança também é uma das marcas do empresário, que chegou a lançar um livro com sua trajetória de sucesso, "O X da questão", escrito pelo amigo e jornalista Roberto D'Ávila, em que dá dicas para quem quiser ganhar dinheiro. Eike dizia que seus ativos eram a prova de idiotas, e que sua função era lapidar diamantes brutos. Vaidoso, disse ao GLOBO não ter problema com sua exposição na mídia. "Por que só jogador de futebol, dupla sertaneja (podem aparecer)?... Sou empresário transparente, tem que mostrar mesmo." Reconhecidamente temperamental, segundo os colaboradores mais próximos, sua personalidade singular e o humor volátil influíram no sucesso e no fracasso de seus negócios. Tiveram inclusive um papel importante nas recentes negociações com credores.

Depois de um crescimento espetacular, os ventos começaram a mudar em junho do ano passado, quando a OGX, sua empresa do setor petrolífero, refez as contas do potencial de exploração da área de Tubarão Azul (Waimea), na Bacia de Campos. De acordo com as novas estimativas, o poço explorado pela OGX tinha capacidade de gerar cinco mil barris diários de óleo, em vez dos 20 mil barris previstos originalmente. A notícia, divulgada no dia 26 daquele mês, foi um banho de água fria nos investidores que acompanharam o otimismo excessivo de Eike. Naquele dia, as ações da companhia despencaram 25,32%.

Ao mesmo tempo, a estimativa equivocada acendeu a luz amarela e chamou a atenção para as fragilidades de Eike. Críticos e principalmente investidores começaram a examinar com lupa o comportamento das companhias "X" e o modelo de gestão do empresário. Apontaram, por exemplo, o altíssimo patamar dos bônus pagos aos executivos de suas empresas. Disseminou-se no mercado a noção de que as empresas de Eike enriqueceram apenas os seus executivos, sobretudo aqueles que compartilhavam o otimismo do "chefe".

Hoje, Eike já não é mais um bilionário. Seu otimismo se mostrou exagerado e é ele que explica uma boa parte de seu fracasso, marcado por uma queda tão vertiginosa como fora sua ascensão.

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