Recentemente, a presidente Dilma Roussef afirmou à imprensa o desejo do crescimento constante e não do voo de galinha para a economia brasileira. "Voo de galinha" é uma expressão utilizada pelos economistas para caracterizar as oscilações do crescimento de um país. Geralmente, é dito que um país se comporta como o voo de galinha quando ele cresce por um curto período, um ou dois anos, e permanece alguns anos com ausência de crescimento ou com uma pequena expansão da atividade econômica.
O desejo da presidente é legítimo porque o principal mecanismo para a elevação das condições de vida da população é o crescimento econômico. Mesmo sendo uma condição universalmente desejável, em determinados momentos ele é interrompido. As razões dessa interrupção são as mais diversas e o entendimento delas tem atraído a atenção dos economistas há mais de um século.
De 2004 a 2008, a economia brasileira cresceu, em média, 4,84% ao ano. Valor superior ao crescimento de muitos países desenvolvidos, mas inferior aos países em desenvolvimento, a exemplo da China e da Índia. Em 2009, em função da crise internacional, o Brasil decresceu 0,6%. 2010 foi o ano da recuperação, cujo crescimento foi de 7,5%, o maior desde 1986. Mas infelizmente, após um ano de crescimento vigoroso, a economia brasileira mostra sinais de desaceleração da atividade, como apontam os resultados do levantamento realizado pelo IBGE, cujos números revelam uma retração de 2,1% da produção industrial.
A queda tão forte na produção industrial é reflexo, em parte, da apreciação da taxa de câmbio e da elevação da taxa de juros e das demais medidas de restrição ao crédito, medidas estas que foram tomadas visando manter a taxa de inflação dentro das metas. Ainda é muito cedo para posições pessimistas, mas é um claro sinal de que a política econômica precisa ser formulada para que o crescimento e a inflação não sejam alternativas excludentes. E um dos pontos centrais nesse aspecto é a eliminação dos entraves estruturais ao crescimento, que envolvem o chamado "custo Brasil". Enquanto tais entraves não forem eliminados, estaremos condenados a ter voos curtos.
Rodolfo Coelho Prates é doutor em Economia pela USP e professor do programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Positivo.