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Café recém-aberto em Havana, capital de Cuba: governo já condeceu 75 mil licenças para pequenos negócios | José Goitia / The New York Times
Café recém-aberto em Havana, capital de Cuba: governo já condeceu 75 mil licenças para pequenos negócios| Foto: José Goitia / The New York Times

Ex-autônomos demonstram ceticismo

Muitas pessoas continuam céticas em relação ao futuro dos autônomos. Juan Carlos Montes administrou um restaurante privado no pátio de sua casa em Havana por cinco anos, mas ficou exausto de receber visitas de inspetores implicantes e fechou o estabelecimento no ano 2000.

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Fidel tolerou setor privado nos anos 90

Cerca de 85% de todos os cubanos com emprego trabalham para o Estado, ganhando aproximadamente US$ 20 por mês em troca de acesso gratuito a serviços como saúde e educação, e uma cota de bens subsidiados.

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Especialista pede abertura a novas áreas

Para que o setor privado prospere, o governo deveria expandir bastante a lista de ocupações abertas para os autônomos, a fim de incluir profissões como engenharia ou direito, diz Ted Henken, especialista no setor privado cubano da Baruch College.

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Bauta, Cuba - Marisela Álvarez passa grande parte do dia debruçada sobre um fogão elétrico em sua pequena cozinha externa. Seus joelhos doem muito. Seu cabelo ruivo tem cheiro de óleo de cozinha. Mas faz anos que ela não se sente tão feliz assim. "Eu me sinto útil, sou independente", disse Álvarez, que, em novembro, abriu um pequeno café em sua casa, nesta decadente cidade a 40 km da capital cubana, Havana. "No fim do dia, quando me sento e vejo o quanto fiz, fico satisfeita", comemora. Com zelo e entusiasmo, cubanos estão aceitando a oferta do governo de trabalhar para si próprios, vendendo café em seus quintais, alugando casas, produzindo móveis de junco e vendendo coisas que vão de DVDs piratas a borracha de silicone e vinho caseiro.

Na esperança de ressuscitar a debilitada economia de Cuba, o presidente Raúl Castro abriu as portas, no ano passado, para uma nova, ainda que limitada, geração de empreendedores, depois de alertar que a "inchada" folha de pagamentos do Estado poderia acabar "colocando em risco a própria sobrevivência da Revolução". A federação trabalhista de Cuba afirmou que o governo demitiria meio milhão dos cerca de 4,3 milhões de funcionários públicos até março, emitindo centenas de novas licenças para pessoas que querem entrar para o minúsculo setor privado cubano, no que pode ser a maior reforma de uma economia operada pelo Estado desde que Fidel Castro nacionalizou todos os empreendimentos, em 1968.

Até o fim de 2010, o governo tinha emitido 75 mil novas licenças, de acordo com o Granma, jornal oficial do Partido Comunista, inflando o índice oficial de autônomos em 50%.

Ainda há um longo caminho até a quantidade necessária para criar alternativas para todos os trabalhadores que acabarão sendo demitidos, e não há garantia de que o mercado suportará centenas de milhares de autônomos. No entanto, as licenças vêm sendo concedidas rapidamente, e o governo tem incentivado a burocracia a continuar assim.

Oportunidades

As ruas antes destituídas de comércio, em cidades como esta e em Havana, estão pouco a pouco tomando vida, à medida que as pessoas penduram placas e toldos do lado de fora de suas casas, ou montam barracas na beira da estrada. Um engenheiro eletrônico, que por anos operou à sombra, agora publica folhetos alegando consertar todos os aparelhos existentes. Uma praticante de santería vende colares de contas, sardinha moída e milho torrado usado em cerimônias na loja de sua casa, com teto de estanho.

Marisela e o marido, Ivan Barroso, receberam uma licença para o café e outra para vender carne e peixe. Agora, o casal comanda um negócio ativo servindo rolinhos recheados com porco ao alho e atum fresco por US$ 0,60, num balcão de madeira na entrada de sua casa. Marisela, ex-bibliotecária de uma escola, havia desistido de trabalhar há muitos anos, mas agora administra o café com o enteado. Barroso sai para pescar, separa os porcos e entrega produtos a clientes em Havana. "Se você tem a capacidade, a dedicação para alcançar uma coisa, deve aproveitar", diz Barroso. Até novembro do ano passado, ele vendia peixe e porco sem licença a um círculo próximo de amigos e clientes.

Agora, Marisela e Barroso estão saboreando a vida no mercado quase livre. Barroso se debruça diariamente sobre um livro onde calcula margens de lucro. As vendas totais para os dois negócios estão em cerca de US$ 270 por mês, ele diz. Barroso e a esposa pagam US$ 37 cada um em impostos por mês, mais 10% do lucro no fim do ano.

Marisela compete por clientes com alguns outros cafés que abriram a menos de duas quadras do dela. Recentemente, todos os três tinham mais clientes do que o sombrio bar estatal na mesma rua, cujas ofertas incluíam sanduíche de omelete, charutos enrolados à mão e preservativos. "Acho que o governo percebeu que o negócio estatal não funciona", diz Barroso. "É o setor privado que gera concorrência. Temos o hábito de fazer mal as coisas em Cuba, mas a concorrência vai consertar tudo isso", espera.

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