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Queda nas bolsas pelo mundo |
Queda nas bolsas pelo mundo| Foto:

Turbulência é teste para o Brasil

O economista do Goldman Sachs e criador da sigla Bric (que designa as economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China), Jim O’Neill, acredita que o agravamento da crise financeira nos Estados Unidos, será "um bom teste para o Brasil". Segundo ele, agora o país terá de mostrar que consegue crescer mesmo com a retração do preços das commodities. "Após um período de correção, poderemos realmente confirmar se o ‘B’ da sigla é mesmo merecido", afirmou. O economista sempre teve uma visão positiva sobre o Brasil, posição que mantém agora, mesmo diante da turbulência global e dos desafios trazidos pela crise externa: "Estou otimista. A economia do Brasil hoje é muito mais forte e estável." O’Neill acredita que uma desaceleração mais forte da China, com crescimento inferior a 7%, seria pior para o Brasil do que a turbulência causada pela concordata do Lehman Brothers.

  • Entenda a crise

Os riscos de os bancos brasileiros serem fortemente contaminados pela crise financeira nos Estados Unidos são mínimos. Primeiro, argumentam os especialistas, porque as instituições nacionais não precisam captar no exterior para continuar atuando. Além disso, as regras de atuação no país são mais rígidas e boa parte das operações em bolsas, como contratos futuros, têm garantias. No caso de inadimplência, já existe um seguro que cobre o prejuízo.

Segundo o analista do setor financeiro do Santander, Henrique Navarro, os bancos que atuam hoje no Brasil não têm forte dependência de recursos externos. Apenas de 10% a 15% do total de crédito oferecido pelas instituições são levantados no exterior. Assim, as instituições não deverão enfrentar grandes problemas com a crise de liquidez que os mercados internacionais já vivem.

Além disso, caso houvesse alguma falência, boa parte dos correntistas estaria resguardada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que é alimentado pelos próprios bancos. Com esse mecanismo, em caso de quebra, cada correntista pode receber até R$ 60 mil se tiver recursos em conta corrente, poupança, entre outros.

Navarro acredita, inclusive, que os bancos locais podem até sair ganhando com a possível maior demanda por crédito por parte de grandes empresas. Estas deverão sentir mais pesadamente a menor oferta de recursos externos e, como opção, acabam procurando financiamentos no próprio mercado nacional. "Este é um movimento que já estamos vendo e, agora, pode até crescer", acrescentou ele, reconhecendo, no entanto, que os custos dessa captações tenderão a subir também.

"O maior problema da crise é a vulnerabilidade que ela provoca nos mercados. O principal efeito é gerar um pessimismo de curto e médio prazo, o que torna os agentes mais conservadores", diz Marcio Cruz, professor do departamento de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva, a menor liquidez no mercado deve provocar também uma reorganização de ativos dos bancos, com a redução dos prazos de financiamento e mais seletividade na concessão de créditos. "Na outra ponta, a queda na bolsa provoca uma redução nos valores dos bancos", o que pode tornar o preço dessas empresas mais atrativo para aquisições.

Grau de Investimento

Ainda que de maneira sutil, o grau de investimento obtido pelo país esse ano deve ter um feito positivo. O Federal Reserve (o banco central norte-americano) anunciou que permitirá o uso de papéis com o chamado "grau de investimento" como garantia para empréstimos de curto prazo. O governo brasileiro e várias empresas do país emitem títulos com essa classificação. Na prática, significa que um banco nos EUA com dificuldade poderá tomar dinheiro de curto prazo do Fed e oferecer como garantia sua carteira de papéis emitidos pelo governo brasileiro.

Apesar disso, Cruz, da UFPR, acredita que esse tipo de operação deve ter um impacto pequeno. "O grau de investimento ajuda, mas ele não é decisivo", afirma.

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