Caio Megale integra a equipe econômica do Itaú Unibanco.| Foto: Alice Vergueiro/Futura Press

A desaceleração do crescimento chinês atingiu o país quase na mesma proporção dos benefícios trazidos pela boa fase das commodities ao Brasil e à América Latina. Mas os vizinhos souberam aproveitar melhor o período da China forte e apostaram nos investimentos internos e na busca por novos mercados. “Nós não tivemos a mesma atitude. Ficamos órfãos”, diz o economista Caio Megale, da equipe econômica do Itaú Unibanco.

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Como o Brasil sente a queda do crescimento da China?

O crescimento da China na década passada foi superimportante para o Brasil e a América Latina toda, que cresceu muito além da média histórica. Os preços das commodities subiram e o valor mais alto gerou recursos para fazer investimentos e distribuição de renda. Agora, a desaceleração chinesa também tem impacto. As commodities estão caindo e toda a América Latina está caindo junto.

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E como poderia ter sido diferente?

O Brasil acabou batendo no limite da capacidade produtiva muito antes dos outros países e começamos a desacelerar antes também.

Poderíamos ter aproveitado melhor o período de crescimento das commodities. Países como Colômbia e Peru aumentaram significativamente o volume dos seus investimentos em proporção ao PIB, mas o Brasil não conseguiu fazer isso. Foi feita uma boa distribuição de renda e estímulo ao consumo, que era importante de acontecer. Outros países da América Latina também fizeram isso, mas podíamos ter aproveitado melhor essa oportunidade para expandir mais a capacidade produtiva.

A desaceleração chinesa tem impacto. As commodities estão caindo e toda a América Latina está caindo junto.

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Qual o efeito dessa falta de investimento na indústria?

O Brasil acabou batendo no limite da capacidade muito antes dos outros países e começamos a desacelerar antes também. No restante da América Latina, o efeito é mais recente, do ano passado para cá. O Brasil vem desacelerando desde 2011. E mesmo o nível de crescimento é muito diferente. Os outros países desaceleram, mas continuam crescendo 2%, 2,5%. O Brasil entrou em recessão.

E o que pode ser feito agora?

Temos uma arma muito boa que é a taxa de câmbio. Essa depreciação cambial que aconteceu no fim do ano passado e começo deste ano dá uma boa compensada na queda dos preços de commodities. Os exportadores de commodities perdem no preço, mas ganham na depreciação cambial. O câmbio faz esse papel de amortecedor na economia. Nós poderíamos ter também diversificado a nossa pauta de destinos de exportação. Fizemos poucos acordos comerciais nesse período. Cresceu muito o comércio e a dependência da China e da Argentina.

Agora o país não tem produção para competir no mercado externo. Isso é consequência da falta de atenção aos novos mercados?

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Estamos correndo atrás do tempo perdido. Tentando ganhar competitividade, com a depreciação cambial, mas os custos de produção ainda estão muito pressionados. A recessão vai ajudar a trazer esses custos pra baixo. Então, lá na frente, com câmbio depreciado, custos mais baixos e aumento do esforço da internacionalização, poderemos correr atrás do prejuízo.

A posição do Banco Central está adequada ao momento econômico?

O Banco Central fez o trabalho que tinha que fazer. Quando as pressões inflacionárias começaram a subir muito, lá atrás, eles ajustaram a política monetária e a elevaram a taxa de juros para 14,25%. Essa taxa está induzindo a recessão econômica, aumentando a taxa de desemprego e está levando a uma situação que, lá na frente, vai ajustar a inflação. Demora, porque a economia brasileira e a inflação têm inércia, ainda há muitos preços sendo ajustados, como as tarifas de transporte. Então, demora pra inflação cair, mas vai cair ao longo do tempo.