Dois anos após a morte de uma vaca com 13 anos de idade em Sertanópolis (Norte do Paraná), o governo brasileiro confirmou ontem a presença de príon um agente infectante que ataca proteínas no sistema nervoso e geralmente resulta no mal da vaca louca no organismo do animal. Em coletiva de imprensa realizada em Brasília, técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) descartaram, no entanto, que a causa da morte do bovino tenha sido a doença. Os laudos apontam morte súbita. O risco de notificação da vaca louca assustou o setor, que neste momento torce para que o caso não ganhe proporções comparáveis à da crise da aftosa, em 2005, quando o país teve prejuízo astronômico com a interrupção de exportações de carnes.
Pasto x ração
Depois de informar a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) sobre os resultados de exames realizados por um laboratório da Inglaterra, o governo disse ter recebido da entidade internacional um documento que mantém o status do Brasil como área de "risco insignificante" para a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), nome científico da doença da vaca louca. "Isso mostra que o nosso sistema de vigilância é solido e tem toda a segurança para garantir tanto a saúde animal como a saúde publica. O processo de criação no Brasil é a pasto. O animal não fica o tempo inteiro comendo ração. Não tivemos vaca louca", sentenciou Ênio Marques, secretário de Defesa Agropecuária do Mapa. O consumo de rações que incluam proteína animal (farelo de ossos, inclusive) é apontado como a principal causa da doença. No brasil, esses complementos são proibidos desde 1995.
Animal idoso
A idade do animal paranaense com o agente causador da vaca louca impede que as autoridades tenham detalhes precisos sobre a sua morte. Para o secretário de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, é praticamente impossível determinar a causa do óbito. "Não temos a conclusão do que o animal morreu, mas temos a conclusão de que não morreu de vaca louca", disse ele em entrevista coletiva.
Os laudos clínicos concluíram que não houve lesão no cérebro do bovino de Sertanópolis e isso elimina a configuração da vaca louca, disse o representante do Mapa. "A causa nós conhecemos. Foi mal súbito, que pode ter sido provocado pela ingestão de planta tóxica, alguma falência...era um animal de 13 anos, o que corresponde a uma pessoa com mais de 80 anos", considera Marques. Ele afirma que o aparecimento do príon no organismo de animais e até mesmo de seres humanos é comum em indivíduos com idade avançada e que outros bovinos do mundo inteiro podem ter essa proteína. "Ela só não desenvolveu a lesão para chegar à doença."
RiscoSetores públicos e privados aguardam impacto
Apesar de a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) manter a melhor classificação sanitária possível para o Brasil, os setores público e privado mostram-se preocupados com os efeitos do caso no comércio internacional. "O impacto vai depender da avalização que os países importadores fizerem e não apenas da OIE. Se a carne de Mato Grosso ficar no mercado interno, os preços caem lá em baixo", analisa Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
O diretor executivo do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná (FundepecPR), Ronei Volpi, também se mostrou preocupado com a repercussão da notícia. "O Paraná é um pequeno exportador. Porém, uma notícia desses pode se transformar, no quesito comercial, em uma pedrinha no sapato", compara ele.
Antes de o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se manifestar em Brasília, o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarnes), Péricles Salazar se mostrou tenso com a situação. "Há uma preocupação generalizada em toda a cadeia", disse. Depois do pronunciamento dos técnicos do órgão federal, porém, o executivo disse estar mais tranquilo em relação aos possíveis impactos econômicos. "Agora não há razão técnica para reação da comunidade internacional. Nós somos vitrine no mercado", ressaltou.
Em comunicado à imprensa, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) demonstrou confiança no diagnóstico apresentado pelo Mapa e nos mecanismos oficiais contra a entrada do agente causador da vaca louca. "Qualquer restrição comercial poderá ser contestada pelo país junto a organismos internacionais", diz um dos tópicos da mensagem.