Bovinos em confinamento, no interior do Paraná: setor teme reação de países importadores| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

1 milhão de toneladas de carne bovina são exportadas por ano pelo Brasil, volume que rende mais de US$ 5 bilhões pelos preços atuais.

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Barreiras sucessivas

A crise da aftosa completou sete anos, mas o Paraná ainda não recuperou o mercado da carne bovina.

Outubro de 2005 – O Ministério da Agricultura confirma casos de aftosa no Paraná (e em Mato Grosso do Sul). São sacrificadas 6.781 cabeças de gado no estado. Em três meses, 56 países impõem embargos. As exportações, que chegavam a US$ 80 milhões por ano, caem aos poucos a zero.

Janeiro de 2008 – Três meses depois de o Paraná recuperar o status de área livre da aftosa com vacinação, a Europa suspende a importação de carne bovina de todo o Brasil, alegando falhas na rastreabilidade.

Junho de 2011 – Mesmo com a aftosa controlada em todo o Brasil, a Rússia embarga os frigoríficos do Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. O bloqueio acaba de ser levantado, mas os negócios ainda dependem de avaliações por frigorífico. Há risco de novos embargos devido à confirmação de que uma vaca do Paraná tinha a proteína da doença da vaca louca.

Sacrifício de animais com aftosa, em 2005: última grande crise
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Dois anos após a morte de uma vaca com 13 anos de idade em Sertanópolis (Norte do Paraná), o governo brasileiro confirmou ontem a presença de príon – um agente infectante que ataca proteínas no sistema nervoso e geralmente resulta no mal da vaca louca – no organismo do animal. Em coletiva de imprensa realizada em Brasília, técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) descartaram, no entanto, que a causa da morte do bovino tenha sido a doença. Os laudos apontam morte súbita. O risco de notificação da vaca louca assustou o setor, que neste momento torce para que o caso não ganhe proporções comparáveis à da crise da aftosa, em 2005, quando o país teve prejuízo astronômico com a interrupção de exportações de carnes.

Pasto x ração

Depois de informar a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) sobre os resultados de exames realizados por um laboratório da Inglaterra, o governo disse ter recebido da entidade internacional um documento que mantém o status do Brasil como área de "risco insignificante" para a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), nome científico da doença da vaca louca. "Isso mostra que o nosso sistema de vigilância é solido e tem toda a segurança para garantir tanto a saúde animal como a saúde publica. O processo de criação no Brasil é a pasto. O animal não fica o tempo inteiro comendo ração. Não tivemos vaca louca", sentenciou Ênio Marques, secretário de Defesa Agropecuária do Mapa. O consumo de rações que incluam proteína animal (farelo de ossos, inclusive) é apontado como a principal causa da doença. No brasil, esses complementos são proibidos desde 1995.

Animal idoso

A idade do animal paranaense com o agente causador da vaca louca impede que as autoridades tenham detalhes precisos sobre a sua morte. Para o secretário de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, é praticamente impossível determinar a causa do óbito. "Não temos a conclusão do que o animal morreu, mas temos a conclusão de que não morreu de vaca louca", disse ele em entrevista coletiva.

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Os laudos clínicos concluíram que não houve lesão no cérebro do bovino de Sertanópolis e isso elimina a configuração da vaca louca, disse o representante do Mapa. "A causa nós conhecemos. Foi mal súbito, que pode ter sido provocado pela ingestão de planta tóxica, alguma falência...era um animal de 13 anos, o que corresponde a uma pessoa com mais de 80 anos", considera Marques. Ele afirma que o aparecimento do príon no organismo de animais e até mesmo de seres humanos é comum em indivíduos com idade avançada e que outros bovinos do mundo inteiro podem ter essa proteína. "Ela só não desenvolveu a lesão para chegar à doença."

RiscoSetores públicos e privados aguardam impacto

Apesar de a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) manter a melhor classificação sanitária possível para o Brasil, os setores público e privado mostram-se preocupados com os efeitos do caso no comércio internacional. "O impacto vai depender da avalização que os países importadores fizerem e não apenas da OIE. Se a carne de Mato Grosso ficar no mercado interno, os preços caem lá em baixo", analisa Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).

O diretor executivo do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná (FundepecPR), Ronei Volpi, também se mostrou preocupado com a repercussão da notícia. "O Paraná é um pequeno exportador. Porém, uma notícia desses pode se transformar, no quesito comercial, em uma pedrinha no sapato", compara ele.

Antes de o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se manifestar em Brasília, o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarnes), Péricles Salazar se mostrou tenso com a situação. "Há uma preocupação generalizada em toda a cadeia", disse. Depois do pronunciamento dos técnicos do órgão federal, porém, o executivo disse estar mais tranquilo em relação aos possíveis impactos econômicos. "Agora não há razão técnica para reação da comunidade internacional. Nós somos vitrine no mercado", ressaltou.

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Em comunicado à imprensa, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) demonstrou confiança no diagnóstico apresentado pelo Mapa e nos mecanismos oficiais contra a entrada do agente causador da vaca louca. "Qualquer restrição comercial poderá ser contestada pelo país junto a organismos internacionais", diz um dos tópicos da mensagem.