Atraso na divulgação de balanço auditado complica relação com credores
A Petrobras tem dezenas de bilhões de dólares em títulos de dívida no exterior e o atraso prolongado da divulgação de resultados trimestrais sem o selo de um auditor externo pode disparar a exigência de amortização antecipada.
O diretor financeiro da empresa, Almir Barbassa, disse que tem mantido conversas com detentores de bônus. No caso do balanço anual, a companhia tem prazo de 120 dias mais 30 ou 60 dias para apresentar os números, dependendo do contrato com os credores.
"Nós temos mantido contato com os bilaterais que são os primeiros que estavam na fila. E anunciamos que tínhamos para o fim de janeiro uma obrigação com um desses credores de apresentar um balanço trimestral auditado, e já obtivemos dele a concordância de não fazê-lo", disse Barbassa.
Embora tenha afirmado que "o propósito e convicção" é atender no prazo previsto a publicação do balanço anual, o executivo destacou que isso depende de "elementos que não estão sob nosso controle".
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A Petrobras, no centro de um escândalo bilionário de corrupção, indicou que poderá não pagar dividendos de 2014 aos acionistas em caso de estresse financeiro e que a investigação contratada pela empresa sobre irregularidades poderá levar até dois anos.
A diretoria da companhia traçou nesta quinta-feira (29) um panorama difícil para o futuro próximo, um dia após ter divulgado o balanço não auditado do terceiro trimestre de 2014 sem nenhuma baixa contábil por fraude envolvendo a empresa, frustrando expectativas de analistas e investidores.
"Há a possibilidade de não haver pagamento de dividendos, essa é uma alternativa que pode ser avaliada dependendo da situação da companhia", disse o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, durante teleconferência com analistas e investidores, referindo-se aos resultados da empresa em 2014.
Mesmo em caso de fechar o balanço do ano com lucro, o executivo frisou que a petroleira poderá declarar o dividendo e não realizar o pagamento de imediato, opção que exigiria aprovação não apenas do Conselho de Administração, mas também de assembleia geral de acionistas.
Corrupção
A Petrobras é peça-chave da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, segundo a qual executivos da estatal indicados por políticos conspiraram com empresas de engenharia e construção do país para sobrevalorizar obras entre 2004 e meados de 2012.
As incertezas sobre a saúde financeira da Petrobras têm deixado a estatal na berlinda e assombrado o início de segundo mandato da presidente da República Dilma Rousseff, que presidiu o Conselho de Administração da estatal de 2003 a 2010.
Na terça-feira, a Petrobras deu uma sinalização do tamanho das baixas contábeis que poderá ter que registrar, ao declarar que a avaliação de 52 empreendimentos em construção ou em operação citados na Lava Jato estão com valor contábil mais de US$ 60 bilhões acima de seu valor justo.
No entanto, o Conselho optou por não ratificar a abordagem do valor justo para os ativos, por entender que todas as variáveis responsáveis pela baixa ainda não são conhecidas.
Segundo a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, os advogados independentes contratados pela empresa disseram a ela que pode levar de um a dois anos para que a investigação de corrupção seja concluída.
Graça Foster disse nesta quarta que a companhia não tem condições de apresentar até abril seu plano de negócios para o período de 2015 a 2019.
"Não há menor condição de apresentar plano de negócios em fevereiro, março ou abril. No fim do primeiro semestre teremos mais certezas sobre variáveis como preço (do petróleo), (taxa de) câmbio e Lava Jato."
Queima de caixa
A Petrobras estimou que encerrará 2015 com caixa de US$ 8 bilhões a US$ 12 bilhões, após ter iniciado o ano com cerca de US$ 25 bilhões disponíveis. A estatal também previu que levantará US$ 3 bilhões com desinvestimentos no ano.
No cálculo do fluxo de caixa de 2015, entram também US$ 28 bilhões a US$ 32 bilhões de geração operacional e investimentos de US$ 31 bilhões a US$ 33 bilhões, cifras que já haviam sido divulgadas pela estatal na terça-feira.
A queima do caixa permitirá que a companhia evite captações de novos recursos ao longo deste ano.
Depois de caírem mais de 10% na quarta-feira, as ações da Petrobras voltaram a recuar na sessão desta quinta. As preferenciais perderam 3,10% e as ordinárias tiveram baixa de 1,85%.
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