Desde que o preço do petróleo despencou e o mercado entrou em crise, em 2014, petroleiras do mundo todo reduziram o número de empregados em suas plataformas e ampliaram a operação remota das embarcações. No Brasil, a automação já atingiu 17 unidades da Petrobras e há ainda o plano de produzir petróleo em cinco áreas da Bacia de Campos sem a presença de tripulação. A proposta é combatida pelos sindicatos, que apresentaram denúncia ao Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ).
Eles acusam a Petrobras de, com o projeto de eliminar a tripulação, colocar em risco a segurança de uma pequena equipe de manutenção que visitaria, periodicamente, as embarcações. A ideia é que, a cada três dias, dez técnicos inspecionem as plataformas. Nenhum deles, no entanto, seria especializado em saúde ou segurança, segundo o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) Marcos Breda.
A “desabitação”, como é batizado o processo de retirar os empregados das embarcações e controlar toda produção de petróleo remotamente, deve começar nas cinco plataformas instaladas nos campos de Carapebu e Vermelho, na região nordeste da Bacia de Campos, que atualmente produzem pequenos volumes de petróleo, cerca de 10 mil barris por dia cada um. Em seguida, o modelo pode ser replicado em outras unidades.
“Faremos a operação remota em sala de controle em todas as plataformas que entendermos que faz sentido, nos próximos dois ou três anos”, afirmou o gerente de Produção em Águas Profundas da estatal, Joelson Mendes. A retirada completa da tripulação só será possível, no entanto, nas áreas de baixa produção. Em grandes campos produtores, localizados em águas profundas, a automação será parcial.
“Não passa na nossa cabeça desabitar plataformas grandes e flutuantes, nem a legislação permite. Só pensamos nisso em campos com economicidade prejudicada (operação mínima), em que fazemos isso ou fechamos a produção. A desabitação é uma alternativa para, de forma segura, prolongar a vida útil da produção e fazer com que investimentos tenham mais retorno”, afirma Mendes.
Segundo a Petrobras, a automação, ainda que parcial, permitiu reduzir de US$ 5 a US$ 10 o custo de mão de obra em cada barril de petróleo produzido. “Estamos trazendo o coração da plataforma para uma base em que conseguimos ter muito mais apoio”, diz Mendes.
Corte
Apenas o corte de gastos com o deslocamento de empregados da costa até o alto mar, onde estão instaladas as plataformas, é estimado em R$ 4,9 milhões por ano. Já o ganho operacional médio é de 13 mil barris por dia, em campos que estão em fase de declínio da produção desde o início da década.
Para o consultor Heron Miguens, da Ernest Young (EY), o controle a distância é um primeiro passo para a redução gradativa das equipes a bordo, que deve resultar na completa desabitação das plataformas. “A redução de pessoas a bordo é uma métrica internacional. É um movimento sem retorno. Mesmo que o preço do petróleo volte a subir, a indústria já aprendeu e vai perenizar essa eficiência.”
O consultor ressalta, no entanto, a necessidade de as agências reguladoras ampliarem o controle dos equipamentos e da operação com essas mudanças. “Ainda é preciso adaptar, por exemplo, alguns procedimentos de contingência (controle de óleo no caso de vazamento). É preciso se aprofundar mais no tema para que o controle da segurança não fique a critério exclusivamente das petroleiras.”
Em nota, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) afirmou que “uma mudança de perfil da operação deve ser comunicada e passar por novos estudos”. Sobre a retirada de toda tripulação das plataformas dos campos de Carapebu e Vermelho, a agência respondeu que, “caso a concessionária decida implementar a operação desabitada nessas unidades, a análise de risco e a gestão de mudanças terão de ser apresentadas à ANP para aprovação”.
Revolução tecnológica
O aprimoramento da tecnologia na produção de petróleo será o diferencial das empresas para vencer a crise, segundo o especialista pela Coppe/UFRJ e conselheiro de administração da Petrobras, Segen Stefen.
Ele enxerga uma revolução do modelo de produção de petróleo em águas ultraprofundas, como no pré-sal brasileiro, com a extinção das tradicionais plataformas de petróleo e instalação de todos os equipamentos no fundo do mar.
A revolução tecnológica deve acontecer em breve, em até dez anos, e vai contribuir para que as petroleiras reduzam o custo de produção em cerca de 20%. Assim, um campo que não seria viável com o petróleo a US$ 40 por barril, com a utilização das tradicionais plataformas de produção, passaria a ser com o uso de equipamentos submarinos. Stefen prevê um ganho em segurança e transformações no mercado de trabalho, que será dominado por profissionais especializados.
“O Brasil teve um papel muito importante no desenvolvimento de tecnologias offshore (marítimas). Mas essa tecnologia, que é considerada o estado da arte, já tem 30 anos. Tem de se pensar de forma um pouco mais vanguardista”, avalia.
Segundo Edmar Almeida, professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, experiências desse tipo já estão sendo realizadas no Golfo do México, nos EUA. Essa é uma tendência mundial, que determinará os “novos vencedores” da indústria petroleira. Já Stefen analisa que, apesar do Brasil estar bem posicionado nesse processo, “ainda está um pouco perdido”.
Stefen aposta no papel de destaque da Petrobras na instalação submarina de equipamentos e extinção das plataformas tradicionais. Mas, em sua opinião, isso ocorrerá em parceria com as outras grandes petroleiras que atuam no País, como a anglo-holandesa Shell. “Falta ainda uma parceria entre os agentes, entre as petroleiras e os fornecedores. O momento é propício para juntar esforços.”
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