A Petrobras terá de importar toda a gasolina extra necessária para compensar a redução da mistura de etanol anidro no combustível a partir de outubro, já que suas refinarias estão "no limite da capacidade", disse o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
"Fizemos no ano passado um esforço para aumentar a oferta, mas agora não temos mais condições de aumentar a produção de gasolina. Com as refinarias existentes não dá, chegamos no nosso limite", afirmou o executivo à Reuters nesta sexta-feira.
"Então qualquer variação de demanda --e obviamente que a mudança dos 25 por cento para 20 por cento do anidro na gasolina vai provocar um aumento de demanda-- vai ser via importação, não tem saída", acrescentou.
O governo decidiu reduzir a mistura de etanol na gasolina em meio a uma safra de cana menor no Brasil, buscando também evitar um eventual contágio no preço da gasolina advindo de elevações nos valores do etanol com a chegada da entressafra de cana.
A mudança na mistura de etanol na gasolina poderá mais que dobrar a necessidade de importação do derivado de petróleo pelo país. Para substituir o anidro, o Brasil precisará de 550 mil barris a mais de gasolina por mês, calcula o Instituto Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Neste ano, a Petrobras importou em média 400 mil barris por mês.
De acordo com o diretor de Abastecimento da Petrobras, a demanda por gasolina hoje é de 450 mil barris por dia. Costa, entretanto, evita comentar qual será o volume de importação que a estatal terá de realizar diante da nova realidade.
"Isso muda a cada dia, dependerá da demanda, dos estoques", disse, evitando também falar sobre a diferença entre o custo da gasolina brasileira e a comprada pela estatal no exterior.
A área de Abastecimento da Petrobras tem registrado prejuízos recentemente devido à necessidade de importar gasolina, em meio ao forte aumento na demanda por combustíveis no mercado brasileiro.
Distruibuidoras
Para Costa, as outras distribuidoras de combustíveis deveriam importar mais gasolina para dar conta do aumento das necessidades do produto a partir de outubro.
"Deveriam, mas não posso responder por elas, só posso falar pela Petrobras", disse.
As distribuidoras de combustíveis, que também fazem a mistura de álcool na gasolina, a exemplo da BR, da Petrobras, têm respaldo legal para importar combustíveis, desde que sejam autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
"Qualquer um pode importar. O mercado é liberado, basta a ANP liberar que elas podem fazer, como já fizeram em alguns momentos do passado", lembrou.
Mas o fato de a gasolina vendida pela Petrobras ser mais barata do que a ofertada no mercado internacional pode não compensar para as distribuidoras fazer importações do produto, pelo menos por enquanto.
Consultado, o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom) informou que as empresas do setor não planejam realizar importações de gasolina no momento.
Uma alternativa, já admitida pelo governo, seria reduzir a tributação da gasolina, para permitir um aumento pela Petrobras na refinaria, equilibrando o preço com o produto importado.
Com 12 refinarias, a Petrobras tem capacidade para produzir cerca de 2 milhões de barris de derivados por dia. Com os novos projetos, será possível processar mais 1,46 milhão de barris diários quando as plantas estiverem prontas.
Adaptação de refinarias
Até 2009, a Petrobras era exportadora de gasolina. Com o crescimento da economia sem aumento da capacidade de refino na mesma proporção, passou de vendedora a compradora do produto, em 2010.
A empresa conseguiu, naquele ano, aumentar a produção de gasolina e diesel com algumas adaptações nas suas refinarias, reduzindo o refino de outros derivados como nafta e óleo combustível.
"Em 2010 a gente fez trabalho nas refinarias justamente para aumentar a produção de gasolina e diesel e tivemos um aumento em torno de 42 mil barris por dia de gasolina com o mesmo hardware, trocando catalisadores, otimizando o processo. Já tivemos aumento de produção interna".
Mesmo assim, o executivo lembrou que, de janeiro a agosto, já importou a mesma quantidade de gasolina de todo o ano passado --cerca de 3,1 milhões de barris de gasolina.