O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse nesta terça-feira que a companhia não descarta abandonar as atividades de refino na Bolívia. A estatal tem duas refinarias no país vizinho, que produzem gasolina, diesel e Gás Liquefeito do Petróleo (GLP). E atua na área de exploração de petróleo e gás, este último enviado ao Brasil pelo gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol).
Praticamente 100% da gasolina e 60% do diesel consumidos na Bolívia são refinados pela Petrobras.
Com a mudança na legislação boliviana, que determina que a estatal YPFB tenha 51% das refinarias, Gabrielli disse que é importante saber o que vai acontecer.
Fazendo questão de ressaltar que não está analisando no momento a saída da Bolívia, Gabrielli admitiu que, da maneira como o decreto de nacionalização boliviano foi estabelecido, ele é "inaplicável".
- Não estamos anunciando que estamos nos retirando (da Bolívia), mas não vamos investir na Bolívia nessa situação. Podemos analisar até a possibilidade de ficar de fora do refino, se não nos interessar - explicou Gabrielli.
Para Gabrielli, o corte do fornecimento de gás está praticamente descartado porque, para que a Bolívia possa produzir outros combustíveis, é necessário o uso do gás natural.
- O gás pára de produzir, o diesel, a gasolina e o GLP também param de produzir - disse.
Ele disse também ser "inadmissível" a declaração do governo do país vizinho de que a empresa sonega impostos.
- Repudiamos firmemente qualquer insinuação de que a Petrobras manobra para sonegar impostos e reduzir pagamentos na Bolívia. É inadmissível dizer que os contratos de exploração sejam ilegais porque não foram aprovados pelo Congresso", afirmou Gabrielli, rebatendo declarações do presidente boliviano, Evo Morales, em Viena, na semana passada.
O presidente da Petrobras explicou que os contratos de hidrocarbonetos na Bolívia se submetem, na Constituição daquele país, a uma lei específica que determina a não obrigatoriedade de passarem pelo crivo parlamentar.
Segundo ele, o melhor caminho para resolver a questão com a Bolívia, que fornece metade do gás consumido pelo Brasil e onde as operações da Petrobras representam 18% do Produto Interno Bruto (PIB), seriam negociações tranqüilas, o que não está sendo possível.
- O conflito e a tensão, que nesse momento se intensificam, não são a situação mais adequada - disse o executivo, ao defender uma postura sem radicalização nas negociações.
Outro tema abordado pelo presidente da Petrobras foi um eventual plano de contingência, caso ocorra o corte total do fornecimento de gás natural para o Brasil. No entanto, ele deixou claro que não acredita nessa possibilidade.
Gabrielli disse que, como empresa responsável, a Petrobras tem sempre um plano de contingência e citou cinco ações que poderiam ser adotadas: redução do uso de gás pela Petrobras; substituição do gás por óleo combustível e GLP; aceleração da produção nacional; alternativas na área de biocombustível; plantas de gás natural liquefeito (GNL).