Após mais de dois anos afundada em um escândalo de corrupção e uma crise financeira sem precedentes, a Petrobras conseguiu pôr o nariz para fora d’água. Mas mesmo quem começa a ver a empresa com algum otimismo ressalta que é cedo para apostar em uma recuperação consistente. A situação ainda é delicada e o caminho, cheio de armadilhas.
Nos últimos meses, os preços do petróleo e a taxa de câmbio, que estavam jogando contra, começaram a ajudar. A companhia empurrou para a frente o vencimento de cerca de US$ 10 bilhões em dívidas e concluiu a venda de atividades na Argentina e no Chile. No fim de julho, anunciou o repasse de um bloco do pré-sal por US$ 2,5 bilhões, o maior negócio até agora de seu programa de privatização, batizado de “plano de desinvestimentos”.
Para completar, na semana que passou a estatal conseguiu suspender, na Justiça dos Estados Unidos, o julgamento de uma ação que pode obrigá-la a ressarcir investidores em até US$ 10 bilhões por prejuízos causados pela corrupção.
A sequência de boas notícias se refletiu nas ações em bolsa, que quase triplicaram de preço desde o piso, no fim de janeiro. Parte importante desse movimento tem a ver com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, vista como contrária a uma gestão mais “empresarial” na petroleira.
Privatização
O ponto mais destacado é o andamento das vendas de ativos e subsidiárias. O processo começou ainda em 2015, na gestão de Aldemir Bendine, mas a troca de governo e a posse de Pedro Parente na presidência da Petrobras, no início de junho, parecem ter agilizado as negociações. A venda de um campo do pré-sal, por exemplo, era vista como pouco provável com Dilma na presidência.
Até agora, a empresa negociou US$ 4,6 bilhões em ativos e participações, 30% da meta para o biênio 2015-2016. Faltam menos de cinco meses para obter os 70% restantes. “Alcançar esse objetivo é crucial para conseguir um fluxo de caixa positivo no ano que vem. O ano de 2016 ainda será muito complicado, com fluxo negativo”, diz Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores.
Ainda na UTI
O engenheiro Luiz Alberto da Cunha Bustamante, consultor do Senado na área de minas e energia, reconhece os avanços recentes, mas pondera que a situação ainda é grave. “Ao se concentrar no que dá mais retorno e passar o resto adiante, a empresa está fazendo o certo, depois de anos fazendo tudo errado. Mas não saiu da UTI”, avalia.
A Petrobras continua sendo a petroleira mais endividada do mundo. Deve mais de US$ 120 bilhões, o equivalente a cinco anos de geração de caixa – o ideal seria não mais que 2,5 anos. “Com isso, ela fica numa posição muito fragilizada. Depende demais de fatores que não pode controlar, como o câmbio e o preço do petróleo”, diz Bustamante.
Desde o início do ano, o dólar caiu de R$ 4 para perto de R$ 3,20, o que alivia a dívida da Petrobras. O barril do petróleo, que flertou com os US$ 20 meses atrás, está na casa dos US$ 40, e o mercado prevê cotações acima de US$ 50 em 2017, o que também é bom para a empresa.
Caso esses indicadores mudem de direção, no entanto, a situação financeira da estatal pode piorar rapidamente. “E tem outras armadilhas. Não sabemos no que vão dar os processos nos Estados Unidos, e a empresa tem um passivo trabalhista e tributário bastante elevado”, lembra o consultor do Senado.