Um resultado da economia brasileira menos desastroso que o esperado deu maior alento às projeções para o encerramento da recessão vivida pelo país. Divulgados na quarta-feira (1º), os números nem de longe são dignos de comemoração: o Produto Interno Bruto (PIB), medida da renda gerada no país, encolheu 0,3% no primeiro trimestre.
Completaram-se cinco trimestres consecutivos de queda; pelos critérios da Fundação Getúlio Vargas, o ciclo de contração da produção nacional já dura dois anos – é o mais longo e intenso desde que o Plano Real derrubou a hiperinflação, em 1994.
Analistas previam, contudo, um desempenho ainda pior. Expectativas de bancos e consultorias rondavam uma retração de 0,8% de janeiro a março; o índice de atividade econômica do Banco Central mostrou piora de 1,4%.
Além da surpresa favorável com o trimestre transcorrido, há mudanças no cenário presente capazes de atenuar os prognósticos sombrios para o restante do ano. A mais óbvia é o afastamento da presidente Dilma Rousseff, celebrado por empresários e investidores, e a substituição da desacreditada equipe econômica da administração petista.
Permanece incerta, todavia, a viabilidade do programa de controle dos gastos públicos apresentado pelo governo Michel Temer, que nem sequer foi detalhado e formalizado. A própria sustentação política do novo governo é ameaçada pela Operação Lava Jato.
Há, de todo modo, sinais ainda incipientes de arrefecimento do pessimismo geral. Um índice da FGV que sintetiza oito indicadores dos humores do mercado contabilizou em abril sua terceira melhora mensal consecutiva.
Pessimismo em queda
A entidade, uma das poucas a acertar o resultado mais recente do PIB, já trabalha com a possibilidade de atenuar a projeção de queda de 3,8% do PIB neste ano.
Mas não são poucos os motivos para cautela. A produção e a renda mostram piora na indústria, nos serviços e na agropecuária; os investimentos em obras de infraestrutura e compra de equipamentos caíram pelo décimo trimestre seguido.
Pilar do crescimento econômico na década passada, o consumo das famílias encolheu 1,7% no início do ano, depois de uma retração de espantosos 5,2% em 2015.
“O consumo das famílias vai ser um dos últimos a reagir. Existe uma defasagem entre atividade econômica e o mercado de trabalho. Além disso, o crédito e a confiança precisam melhorar primeiro”, aponta Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências.