Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, o governo alimenta a expectativa de alta nos juros| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

O desafio imposto pela queda dos juros dominou os debates do 30.º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, realizado em Curitiba na semana passada. Os gestores dos fundos – que administram a aposentadoria de quase 3 milhões de brasileiros e um patrimônio superior a R$ 460 bilhões – admitiram a necessidade de deixar a "zona de conforto" e buscar alternativas às aplicações de renda fixa. Mas quase sempre lembravam que ainda não há motivos para desespero: o mercado futuro sinaliza que a taxa básica de juros (Selic) deve subir no início de 2010 e, assim, melhorar a rentabilidade dos fundos.

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Essas mesmas expectativas enfurecem o ministro da Fa­­zenda, Guido Mantega, para quem a expansão dos gastos do governo e as desonerações fiscais não vão pressionar a inflação. Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, que participou do congresso na sexta-feira, o mercado está simplesmen­­te reagindo aos sinais de afrouxamento fiscal que a Fazenda envia todos os dias. Em entrevista à Gazeta do Povo, Franco afirmou que o governo está "embriagado" com a política anticíclica, e que sua obsessão de acelerar o crescimento econômico "compromete um futuro que se assegura brilhante para o país".

O governo está empenhado em melhorar a situação de suas contas?

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Acho que não. Vejo o governo sem saber bem o que fazer. Está um pouco embriagado, talvez, com o conceito de política anticíclica. Mas já acabou o fundamento para política anticíclica. Anticíclico, agora, seria contrair, e não expandir [a atividade econômica]. Por isso, deve haver um pequeno aumento nos juros no começo do ano que vem, embora o ciclo de alta deva ser curto desta vez. A longo prazo, a tendência é mesmo de juros mais baixos.

Então é o próprio governo quem provoca essa expectativa de alta do juro?

Sim. E prejudica as perspectivas de médio prazo por uma miopia, de querer produzir uma taxa de crescimento excessivamente acelerada agora. Compromete um futuro que se assegura brilhante para o país, em nome de uma pressa que não tem sentido. O futuro nos reserva coisas boas porque nos últimos anos a política fiscal foi prudente. Por que agora, no fim do governo, abandonar o que deu certo?

A prudência já foi abandonada?

Vejo manifestações que me deixam um pouco assustado, porque divergem do que vem sendo o comportamento do governo nos últimos anos. O que é uma pena. Tomara que seja daquelas coisas que acontecem e que logo se corrigem, porque o próprio mercado pune a autoridade que fala, ou que começa a praticar uma política que é tida como errada ou inconsistente. As autoridades estão irritadas com o mercado, porque o mercado está prevendo aumento dos juros. Mas o mercado está simplesmente lendo o seguinte: vocês, autoridades, fixaram a meta de inflação e agora estão fazendo um troço que não combina com ela. E que só resolve se subir os juros.

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