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Existem dois momentos nada fáceis na vida executiva. Trata-se da contratação e da demissão de colaboradores. Demitir é um fardo que certamente ninguém se sente à vontade com o peso. Antes, durante e depois é uma ação dolorosa que não se esquece na história profissional.

Admitir pessoas parece bem mais fácil e pode ser no sentido da leveza, mas não necessariamente no da responsabilidade. A expectativa permeia a contratação de ambos os lados, pois o profissional, desempregado ou não, que vai entrar numa nova empresa chega suspenso por expectativas imensuráveis além de muita ansiedade. Já o contratante carrega o mesmo sentimento, no entanto arca com o peso de gerar o mesmo no outro; porém, é ele quem detém o poder.

Ora, entrevistas, testes e dinâmicas estão aí para ajudar e facilitar o trabalho minimizando erros ou enganos. Há quem apele para horóscopo, grafologia, vidente e tudo o mais. Currículo é importante, claro, contam sobre as escolhas, os interesses, as ações, os projetos ou a experiência, mas currículos que não incorporam resultados são testes para adivinhações. A imaginação permite tudo e chega a ser malandra, pois faz o contratante ver coisas que não existem. Muitas vezes ele enxerga o que deseja e logo na arrancada têm surpresas. Nessa hora se percebe como a comunicação é falha.

Parece que a bendita intuição nasceu para ficar. Sabe aquela "nuvenzinha" que alerta sobre algo que gera dúvida dissimulada? São pequenos sinais, sutis, que incomodam muito rapidamente e a sensação se esvai assim como surge. Pode ser o andar, a postura, uma frase, o olhar ou a escolha das palavras. Pode ser algo que está mascarado e percebe-se uma nota dissonante na voz. Pode ser... tanta coisa quase inexplicável!

Essa conversa de risco, entre contratante e contratado, é um jogo em que não há ganhadores ou perdedores. Dar certo é bom para ambos, mas quando a contratação reserva surpresas negativas, todos perdem. Frustração culpa, desalento são alguns dos sentimentos que aparecem sem convite e se instalam, donos da situação. Se o gol acontece nos primeiros minutos do segundo tempo, que satisfação! Realização para todos.

A entrevista direta entre as partes interessadas é essencial, mas como saber da vida do próximo em tão pouco tempo?

Tenho comigo algumas questões que acompanham minha vida profissional. Quais as principais crises de vida da pessoa e como ela se saiu delas. Nessa indagação importa mais o "como" do que o "o quê". Qual é o projeto de vida a que ela aspira? Quais os sonhos para a aposentadoria? O que ela mais gosta e o que ela mais detesta? Quais são os seus valores? Questões dessa natureza permitem análises interessantes e ricas e a maneira de responder oferece indicadores que não costumam dar errado. Um almoço pode ser uma boa ocasião para se conhecer melhor e mais profundamente o candidato.

Esse encontro entre as partes deve ser o mais honesto, o mais transparente, o mais verdadeiro possível para evitar problemas futuros. Ambos devem ser incrivelmente espontâneos e naturais. Ah! Pergunto sempre qual é o "defeito" ou "fragilidade" da pessoa e a reação já revela muita coisa!

A entrevista é o grande momento. Pode ou não oferecer um emprego. E pode ou não oferecer o inferno.

Maria Christina de Andrade Vieira, empresária e escritora, autora de Herança (Ed.Senac-SP), Cotidiano e Ética: crônicas da vida empresarial (ed. Senac-SP).chris@onda.com.br www.andradevieira.com.br

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