Com a queda no consumo e a desaceleração de investimentos – reflexo da crise econômica –, muitas empresas se veem forçadas a reduzir suas equipes de trabalho. A demissão, apesar de incômoda, é a alternativa mais recorrente entre companhias que, impactadas pela queda na demanda, precisam cortar gastos para sustentar seus negócios. Enfim, é algo que faz parte do ciclo de grandes e pequenas empresas.
O problema é quando toma proporções maiores do que deve ter e assombra funcionários que não necessariamente correm riscos. É o “estresse da demissão”, um fenômeno recorrente em muitas companhias e que tem feito com que, cada vez mais, profissionais como psicólogos e terapeutas atuem nesses ambientes de trabalho.
É o caso de Maria Helena Vernizi, que atende empresas que estão passando por essa tensão. Ela explica que o “estresse da demissão” é uma série de sintomas gerados pela pressão no ambiente de trabalho, que não vem necessariamente dos líderes e gestores. Algumas vezes essa pressão é criada pelo próprio funcionário, quando percebe que sua empresa ou equipe passa por um momento de baixa produção ou rendimento.
O problema é que esse sentimento só dificulta as coisas porque impede que a pessoa faça um bom trabalho. “O medo impede a pessoa de ir em frente, ela não tem autocontrole. Se ela ficar pensando no trágico, não vai conseguir se concentrar, não vai ter a atenção necessária para desenvolver a sua função com qualidade”, explica a psicóloga.
Sinais do estresse
Saiba quando o medo da demissão pode estar afetando corpo e mente:
- Baixa produção no trabalho.
- Desmotivação, até para atividades de lazer que antes a pessoa costumava gostar.
- Aperto no peito.
- Estresse do trabalho começa a afetar toda a família.
- Doenças psicossomáticas: quando algo gerado pela mente (sentimentos e pensamentos) provoca sintomas e doenças sentidos no corpo.
Pense positivo
Muitas vezes, diz Maria Helena, o que causa a demissão é o próprio medo dela. Quando o funcionário deixa de colocar o foco de suas ações na atividade que deve cumprir ocorre uma queda de rendimento. Se, ao invés de se aprimorar na sua área, a pessoa ficar a maior parte do tempo buscando informações e alternativas para o caso de ser a próxima a “rodar”, ela vai ficar para trás em relação aos outros colegas, lembra a especialista.
Outra coisa que pode acontecer, explica, é que, quando uma parte da equipe é demitida, os funcionários que ficam na empresa acumulam as funções dos colegas que saíram. E quem não mostrar que tem a flexibilidade necessária para momentos como esse, corre o risco de ver seu medo de ser dispensado se tornar realidade.
Para não ser demitido é preciso fazer um bom trabalho. E para fazer um bom trabalho é preciso foco. Isso exige esforço e concentração no momento presente, como explica Vernizi. “A sua cabeça deve estar onde o seu corpo está. Tem que evitar a ansiedade. Fazer exercícios físicos e meditação ajuda muito, oxigena todo o corpo.” Ela orienta seus pacientes a não fechar os olhos para a situação, mas sim se preparar de uma maneira segura e madura para uma possível demissão – caso o risco exista de verdade.
Gestor deve adotar postura de mediador para evitar conflitos
Entre a situação difícil das empresas e o temor dos funcionários estão os líderes das equipes. São eles que têm a função de mediar os pedidos e reclamações, além de motivar o seu time. A tarefa não é tão fácil em tempos de crise, principalmente quando o próprio líder não tem ideia do que pode acontecer no futuro.
A conduta do gestor influencia todo o resto da equipe, por isso cabe a ele a missão de quebrar o ciclo de pensamentos negativos, como explica a terapeuta em programação neurolinguística Simone Mohr. “Quando um funcionário é demitido, os outros ficam paranoicos. Eles até têm a capacidade técnica para trabalhar, mas com o emocional desestruturado, não têm como organizar o pensamento. E o pensamento desordenado gera ações desordenadas.”
O papel do líder é mediar os conflitos externos e também internos, a fim de coordenar a equipe com assertividade. Hoje a capacitação de bons mediadores envolve o desenvolvimento técnico e pessoal. Segundo o master coach Andre Brindarolli, é preciso ter – mais que inteligência – alfabetização emocional, um novo conceito que explica a capacidade de conhecer as próprias habilidades e as do grupo do qual o líder faz parte e, a partir disso, trabalhar os limites e as competências das pessoas.
“Antes conteúdo era sinônimo de poder. Depois veio a ideia de que informação é poder. Hoje o que traz força é a gestão de tudo isso. É a questão de usar a visão sistêmica. Não dá mais para trabalhar pensando apenas na concorrência”, afirma.
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