Aconteceu o que o mercado financeiro mais temia. Uma denúncia de propina envolvendo o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, trouxe grande nervosismo aos investidores e levou o dólar a fechar em alta de 2,94%, cotado a R$ 2,448 na compra e R$ 2,450 na venda. Foi a maior alta diária desde o final de maio de 2004. No acumulado da semana, a valorização do dólar foi de 3,20%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) enfrentou forte volatilidade diante da piora do cenário político, mas terminou o dia com perda moderada. O Índice Bovespa recuou 0,95%, aos 26.643 pontos. Os negócios somaram R$ 1,853 bilhão e evidenciaram uma grande participação de investidores estrangeiros.
CÂMBIO -O clima no final dos negócios era de grande incerteza quanto aos próximos desdobramentos da crise. A dúvida é se os fundamentos econômicos positivos vão continuar a prevalecer sobre as turbulências do cenário político. Com a queda dos títulos da dívida externa, o risco-país brasileiro fechou em 419 pontos centesimais, com alta de 3,46%.
- É difícil afirmar qualquer coisa neste momento e o mercado terá de esperar para ver quais são os próximos desdobramentos. O que se sabe é que os fundamentos econômicos estão muito positivos e não justificariam um comportamento negativo do mercado - afirma Alexandre Sant'Anna, analista da ARX Capital Management.
A notícia-bomba foi dada pelo promotor Sebastião Sérgio de Silveira, durante o depoimento do advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro Palocci na época em que ele era prefeito de Ribeirão Preto. Segundo o depoimento de Buratti, Palocci receberia propina de R$ 50 mil mensais da empresa Leão & Leão, em troca da manutenção do contrato de coleta de lixo. Os recursos seria repassados ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que os destinava ao financiamento de campanhas eleitorais.
A notícia caiu como uma bomba no mercado e gerou uma piora brusca em todos os ativos. O dólar chegou a subir 4,33% nos piores momentos, mas atraiu muitos vendedores, que aproveitaram a ótima chance de lucrar com a volatilidade. Entre as especulações dos operadores estiveram os nomes de possíveis substitutos de Palocci.
- O mercado reage com estresse porque é muito emocional, mas essas denúncias ainda precisam se confirmar - afirma Jason Freitas Vieira, economista da consultoria GRC Visão, ressaltando que nesses momentos acontecem perdas irreversíveis.
Segundo o economista, os próximos passos do mercado dependerão da reflexão a ser feita daqui em diante. Toda a pressão poderá arrefecer, se em um segundo momento se perceber que as denúncias não tiverem consistência e não puderem se sustentar. Mas também há grandes chances de o cenário realmente se deteriorar, se a conclusão for contrária.
JUROS - As projeções dos juros negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam com forte alta, como reflexo do estresse dos mercados com a aparente deterioração do cenário político.
- O nervosismo gerado pelas denúncias contra o ministro Antônio Palocci fez o mercado de juros se preparar para a possibilidade de os juros não começarem a cair em setembro. Para piorar, houve alta do petróleo e reajuste de preços do gás - afirmou um experiente profissional de uma corretora paulista.
O Depósito Interfinanceiro (DI) de outubro fechou com taxa de 19,66% ao ano, contra 19,62% do fechamento de quinta-feira. O DI de janeiro de 2006 terminou o dia com taxa de 19,28% anuais, frente aos 19,12% anteriores. A taxa do DI de janeiro de 2007, o mais negociado, disparou de 17,95% para 18,50% anuais.
A taxa Selic foi mantida estável nesta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A taxa básica continuará em 19,75% ao ano pelo menos até meados de setembro.
PARALELO - O dólar paralelo negociado no Rio de Janeiro fechou em alta de 1,96%, cotado a R$ 2,45 na compra e R$ 2,60 na venda. Em São Paulo, o paralelo recuou 0,37% e fechou a R$ 2,55 na compra e R$ 2,63 na venda. O dólar turismo de São Paulo fechou valendo 2,38% mais, cotado a R$ 2,39 e R$ 2,58 na compra e venda, respectivamente.
AÇÕES - Nos piores momentos do dia, quando se soube das denúncias contra o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, a bolsa chegou a cair 2,87%. Mas as ações do setor exportador andaram na contramão das demais e de alguma forma limitaram as perdas. Entre os destaques do dia estiveram as exportadoras VCP PN (+2,46%), Embraer ON (+2,46%) e Vale do Rio Doce ON (+2,12%).
Segundo Gustavo Alcantara, gestor de renda variável da Mercatto, a queda final da Bovespa não chegou a ser expressiva porque há uma parcela de investidores que continua a dissociar o cenário político do econômico. Nesse grupo, o destaque é para o investidor estrangeiro. Ele afirma que o próximo fim-de-semana será primordial para se saber o tamanho da crise, já que a oposição deverá ser pronunciar e o PT buscará se defender. Além disso, ainda há a publicação das revistas semanais.
- O mercado não quer acreditar muito em efeitos danosos que a crise política gerar na economia. Mas essa tese tem como ponto fraco o fato de a "blindagem" do ministro da Fazenda estar ameaçada - disse Alcantara.
Com o resultado desta sexta, a Bovespa encerrou a semana com queda de 1,14%.
Segundo Alcântara, também contribuiu para reduzir as perdas no mercado de ações a nota do ministro Palocci negando as declarações de Buratti.