No meio acadêmico, fazer mestrado ou doutorado é garantia de melhora profissional, seja em possibilidades de atuação ou no salário. Por outro lado, as empresas começam a olhar para essa parcela especializada com mais atenção. Segundo pesquisa da consultoria Produtive, com executivos das regiões Sul e Sudeste, trabalhadores de mercado que investiram em mestrado/doutorado tiveram 21,4% de aumento na média de remuneração, entre o primeiro semestre de 2014 e o mesmo período de 2015.
De R$ 13.804, a média salarial desses gestores passou para R$ 17.561. Além disso, o levantamento aponta para o aumento do nível de “trabalhabilidade”: a capacidade de gerar fontes alternativas de renda, além do emprego tradicional.
Na prática: Aos 50 anos, Sandro Mendes voltou à sala de aula para fazer um Mestrado na área de Turismo
A valorização desses profissionais que unem experiência prática e conhecimento acadêmico, para Rafael Souto, CEO da Produtive, é resultado da exigência do mercado. “É preciso profissionais com profundidade, hiperespecializados. Ambiente mais competitivo, margens de lucro pequenas, busca por resulta- do, requerem profissionais altamente capazes”, comenta.
Outro aponto que Rafael levanta é a diferenciação dos níveis de aprofundamento. “Especializações lato sensu são como commodities, todos têm e já se espera que tenha”, frisa. “Bem por isso, os contratantes hoje olham muito em que escola a pessoa fez o curso, se tem pontuação boa junto ao MEC, inclusive”.
Para ele, acontece hoje, no Brasil, uma aproxima- ção entre empresas e universidades, no intuito de colocar pesquisadores e profissionais da área para pensarem, juntos, em melhores soluções. “Os cursos stricto sensu são o elo desse movimento”, afirma Souto.
Apesar disso, conforme explica Daniella Forster, psicóloga e coordenadora do PUC Talentos, o reconhecimento de profissionais de mercado com especialização stricto sensu não atinge todos os ramos. “Em geral, as áreas mais ligadas com pesquisa e inovação, onde é preciso profundidade de conhecimento para criar coisas novas são mais valorizadas”, indica. Campos ligados à tecnologia, áreas de pesquisa e desenvolvimento– alimentos, agronegócios, farmácia – são alguns exemplos. “Empresas que querem entrar em setores de manufatura, além da indústria como um todo, também buscam profissionais mais completo”, diz o CEO da Produtive.
Ganhos
Além da parte salarial, investir em uma especialização stricto sensu torna o profissional mais pre- parado para crescer e aumentar as possibilidades de atuação. De acordo com Rafael Souto, esses trabalhadores tendem a ser valorizados por traze- rem mais soluções de negócio. “É como um músculo: sozinho não ganha a luta, mas te dá estrutura. A perspectiva e a curva de crescimento se tornam mais rápidas, e a chance de agregar valor é muito maior”, pontua.
Além disso, destaca Danielle, o profissional ganha consistência: consegue manter o emprego por mais tempo, tem maiores oportunidades de crescimento e recebe até propostas internacionais. “Muitas vezes ele chega a um nível em que as empresas – que tem áreas de desenvolvimento fora do país – preferem mandá-lo para fora do que mantê-lo aqui, onde se valoriza pouco esse tipo de profissional”, acrescenta.
A decisão de focar em uma especialização stricto sensu pode ser natural, mas a volta às carteiras da universidade não é tão simples. Com 50 anos e começando o mestrado em Turismo 10 anos depois de ter terminado a graduação em Administração, Sandro Mendes se viu desafiado para dar conta do recado. “Não tive licença do trabalho, moro na Região Metropolitana de Curitiba, tenho esposa e filhos e precisei abrir mão de muitas atividades nesses dois anos”, relata.
Por outro lado, os conhecimentos que ia adquirindo durante o curso foram auxiliando de imediato os projetos que vinha desenvolvendo, além da melhora salarial prevista e da ampliação de atuação em diferentes projetos.
Antes de começar no programa, Sandro cursou uma disciplina isolada para conhecer o curso. É o que aconselha Rafael Souto, da Produtive. “É preciso ter noção do desafio no qual estamos entrando, conversar com quem já tenha feito, além de planejamento intenso, porque muda nossa rotina. Muitos entram sem ter noção do que é e acabam desistindo”, diz.
Já para Cláudio Rocha, que demorou 11 anos entre graduação e o mestrado em Medicina Veterinária, o ingresso veio a convite de um professor da Universidade Federal do Paraná. “Eu tinha muitos relatos de problemas reprodutivos pós-parto em vaca leiteira que poderiam ser tabulados e publicados”, explica.
Sem ter feito aula experimental e nem ideia do que o esperava, ele conta que, apesar de ter experiência na área, teve receio de concorrer com alunos recém-saídos da graduação. “Foi difícil, principalmente a adaptação ao novo ritmo. Requer muita vontade e persistência. Me valorizei profissionalmente e tenho uma segurança para o futuro”, completa Rocha.