Procurar um emprego faz parte da rotina de 12 milhões de brasileiros – segundo o IBGE, 11,87% da população do país estava desempregada no terceiro trimestre de 2016. Nesse cenário, entender o mercado de trabalho e atender as necessidades das empresas são medidas essenciais para se tornar um candidato mais competitivo.
Depois de um período difícil, 2017 não deve ser um ano de expansão, mas sim de reestruturação, defende Bruno Melo, consultor de transição de carreira da Thomas Case & Associados. “Hoje se buscam competências mais alinhadas com a cultura da empresa”, afirma.
Por isso, os cargos mais valorizados são aqueles que afetam diretamente a produção, e funcionários com olhar crítico que conseguem contribuir com a melhora do desempenho manterão seus postos. “Já um profissional que está procurando uma nova oportunidade tem de mostrar como vai impactar a empresa”, ensina Lucas Oggiam, gerente de recrutamentos da Page Personnel. “Ninguém precisa mais de um cara que quer sentar na cadeira e só fazer o trabalho dele. E sim de pessoas interativas e interessadas”, salienta.
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Oggiam também lembra que, apesar do momento complicado, algumas empresas já passam por melhora e contratam funcionários. Usar redes sociais (como o Linkedin), cadastrar currículos em sites e manter contato com possíveis empregadores são algumas medidas que ajudam a chegar nas novas vagas.
Segundo o Guia Salarial 2017 da Robert Half, empresa internacional de recrutamento, o cenário faz com que os processos seletivos para colocações corporativas fiquem mais longos – com o baixo número de contratações, os candidatos são escolhidos a dedo. A pesquisa também mostra as características mais valorizadas pelos empregadores de acordo com a área de atuação: ter inglês fluente é uma unanimidade entre todas. Nas questões comportamentais, habilidade de comunicação, proatividade e interatividade são valorizadas.
Neste ano, colocação deve demorar
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o desemprego vai aumentar no mundo inteiro em 2017, sendo que a estimativa chega a 1,2 milhão de novos desempregados no Brasil. Melo vê momentos de retração como bons períodos para reavaliar a situação profissional e melhorar seu autoconhecimento. Mudanças de carreira, cita ele, podem ser uma saída para evitar a inatividade.
Marcelo Weishaupt Proni, professor do Instituto de Economia da Unicamp, explica que sempre existe uma defasagem entre as oscilações do mercado e as taxas de ocupação. Assim, quando começa a desaceleração, demoram cerca de seis meses para isso ficar visível nos índices de desemprego. O mesmo acontece na recuperação.
“A economia estava em uma recessão profunda e 2017 terá uma pequena melhora. Mas, provavelmente, vai ser um ano de estagnação, com um crescimento muito lento”, aponta.
Outro fator que trará alterações, diz Proni, é a diminuição de vagas em concursos públicos nos próximos anos, o que deve aumentar a concorrência no setor privado.
Migrar de área é uma tendência de carreira em 2017
Em tempos de carreiras mais longas, é comum que profissionais mudem de atuação durante a vida – a migração é uma tendência, comenta o gerente de recrutamentos da Page Personnel, Lucas Oggiam. “Tenho visto mais pessoas trocando de carreira nos últimos 18 meses do que nos últimos anos”, frisa. Ainda assim, as transições exigem cautela.
Para Bruno Melo, consultor de carreira da Thomas Case & Associados, outro movimento é o de funcionários que deixarão o mundo corporativo para ter o próprio negócio. “Muita gente entrará no empreendedorismo nos próximos 10 anos”, indica.
Vilson Fogaça é um exemplo: trocou de carreira duas vezes nos últimos anos. Depois de quase 20 anos de experiência na área de logística e supply chain, ele se desligou da empresa e optou pelo empreendedorismo. A escolha foi feita principalmente para melhorar o estilo de vida – queria passar mais tempo com a família e cuidar da sua saúde.
Inspirado por um amigo que tinha aberto uma loja de bolos artesanais em Londrina, Fogaça desenvolveu um negócio semelhante em Curitiba, em 2013. Depois de seis meses de pesquisa e planejamento, feitos quando ainda estava trabalhando em uma multinacional, saiu do emprego para abrir o espaço.
Depois de um ano e meio, Fogaça resolveu retornar para a formalidade. “Queria mais segurança financeira, sim, mas também estava com saudade do mundo corporativo”, conta. Começou a participar de processos seletivos e voltou a atuar com logística e supply chain. A loja foi vendida depois de mais alguns meses, resultado de uma oportunidade de negócio: surgiu um comprador interessado.
Fogaça avalia a experiência no negócio próprio com bastante otimismo. “Foi uma grande escola para mim. Comecei a ter uma visão muito melhor de como uma empresa funciona. Quando você é o dono, pensa duas vezes antes de imprimir um papel. Cada centavo sai do seu bolso”, fala.
Ele sente que a mudança não prejudicou sua carreira. “A minha saída foi planejada, e a volta antecipada”. E, mesmo que no momento seu foco esteja no mundo corporativo, afirma ter vontade de voltar a empreender em algum momento.
Qualquer mudança de emprego exige prudência
Antes de migrar de área, é preciso de análise: o primeiro passo é avaliar o que é necessário ser feito. Para carreiras semelhantes, trocar de emprego ou fazer um curso de pós-graduação podem ser suficientes.
Oggiam afirma que redirecionar a atuação dentro de uma mesma empresa pode ser bem visto. “Ser sincero e transparente sobre isso é muito mais fácil. O profissional consegue agregar conhecimentos dentro da companhia. É um movimento recebido de forma positiva internamente”, explica.
Em casos de nova graduação, é preciso se planejar financeiramente, tanto para os anos de estudo como para o começo de atuação na nova profissão. O mesmo vale para profissionais que desejam empreender, já que é necessário aguardar o tempo do retorno financeiro.
Melhore suas chances
Bom currículo e postura responsável em processos de seleção aumentam a probabilidade de conseguir um emprego. Veja dicas de profissionais de recrutamento e gestão de carreira:
Ter domínio do inglês é essencial, mas outros idiomas são desejáveis. Lucas Oggiam, gerente de recrutamentos da Page Personnel, lembra também que o domínio de línguas asiáticas será uma grande vantagem nos próximos anos.
Uma especialização ajuda a destacar um candidato de uma pilha de currículos. Outros cursos, mesmo que de curta duração, também devem ser incluídos.
São mais relevantes para pessoas em cargos de chefia. “São um diferencial para profissionais em posições de gestão. Procure um curso que se aplique de alguma forma com a atuação da empresa”, orienta Bruno Melo, consultor de transição de carreira da Thomas Case & Associados.
Ainda que a rede social não tenha a contratação de profissionais como objetivo, muitos recrutadores buscam contatos pelo Linkedin. Para Melo, participar de forma relevante no site pode criar oportunidades profissionais – mas é preciso contribuir diariamente para que o perfil atraia a atenção. E é claro: formas distintas de networking, como participação em eventos e até cursos de pós-graduação, continuam sendo importantes.
A relação entre o candidato e o possível empregador começa no envio do currículo – formate o texto para chamar atenção de quem está lendo. Nos processos seletivos e entrevistas, seja maduro e claro na hora de se comunicar. “A empresa quer saber o que você é capaz ou não de fazer e entender suas expectativas com o cargo. Ser sincero é importante”, orienta Oggiam. Mostrar como pode contribuir com o que já é realizado torna o candidato mais competitivo. “É necessário traduzir o que sabe em interesse para a empresa”, complementa o gerente.