Qual a probabilidade de um fotógrafo presenciar um evento noticioso inesperado, como um acidente, um incêndio ou um assalto? De ele estar no local certo, no momento certo? Se forem levados em conta apenas os fotógrafos e fotojornalistas profissionais, essa possibilidade é bem pequena. Mas, com a profusão de câmeras digitais e celulares capazes de capturar imagens, "alguém, em algum lugar do planeta, ocupa a posição privilegiada para fotografar fatos", tornando praticamente todas as notícias passíveis de serem acompanhadas de uma foto (ou até de um vídeo). Partindo dessa premissa, de que o mundo está coberto de fotógrafos em potencial, surgiu em agosto um serviço interessante na web: o Scoopt (www.scoopt.com).
De acordo com reportagem de João Paulo Pimentel da GAzeta do Povo desta segunda-feira, o site, ainda em versão beta (de testes), promete ser "a primeira agência de imagens do jornalismo participativo" seja lá o significado desse termo. Seu funcionamento é simples, basta o usuário preencher um cadastro gratuito e, a partir de então, enviar as fotos que considerar publicáveis em meios de comunicação. Cada imagem precisa estar acompanhada de informações básicas é obrigatório, por exemplo, o preenchimento de respostas às perguntas "Quem?/O que?/Quando?/ Onde?/Como?". A equipe do Scoopt se encarrega de fazer a ponte entre o público e os editores fotográficos ao redor do mundo.
Na outra ponta, de acordo com a página de apresentação do serviço, há uma forte preocupação com a segurança dos compradores (jornais, revistas e sites de notícias). "O Scoopt, além de ter uma política editorial interna para definir aquilo que aceita armazenar e comercializar , aplica uma série de medidas técnicas para garantir a autenticidade do material", diz o criador da ferramenta, o escocês Kyle MacRae.
Valor
Não há valor estabelecido por fotografia vendida através do Scoopt. De acordo com os desenvolvedores do serviço, entretanto, há uma negociação com os editores interessados para que a imagem seja adquirida pelo melhor preço. Cada vez em que uma foto armazenada no site é licenciada, o fotógrafo recebe 50% do seu valor os meios de pagamento são por cheque, depósito em conta bancária ou pelo PayPal (serviço de transferência financeira via internet, mantido pelo site de leilões eBay).
Esta última opção parece a mais interessante para usuários brasileiros, já que não sofre interferência de distâncias geográficas e remessas internacionais de dinheiro.
Sucesso
Se havia alguma dúvida de que transeuntes em geral teriam interesse em vender imagens para a imprensa, ela se dissipou por completo em 7 de julho, dia dos atentados terroristas no metrô de Londres. Naquela manhã, a rede mundial de computadores recebeu uma avalanche de fotografias tiradas "in loco", publicadas em milhares de blogs. Ao mesmo tempo, jornais e agências de notícias do mundo inteiro compravam os melhores retratos da tragédia. "Esses acontecimentos trouxeram o jornalismo participativo para o centro das atenções, demonstrando que imagens captadas por cidadãos são, muitas vezes, mais impressionantes e chocantes", frisa MacRae, lembrando que os atentados chegaram a adiar o lançamento do Scoopt. "Não queríamos nos aproveitar do momento, ligando o serviço ao sensacionalismo."
Ao que tudo indica, a idéia de MacRae vem dando certo, pelo menos no Reino Unido. Jornais britânicos como London Today, Bristol Evening Post e até o gigantesco The Sun tornaram-se clientes do serviço no mês de setembro. O valor pago pelas licenças, entretanto, continua guardado a sete chaves.
Em 2004, foram vendidos ao redor do mundo 200 milhões de celulares com câmera. Um estudo da consultoria International Data Corporation (IDC) mostra que, já em 2006, esses aparelhos híbridos podem somar a metade de todos os telefones vendidos no planeta. A mesma pesquisa mostra que o uso de celulares para tirar fotos continua a crescer, mas ainda é superado pelas imagens feitas pelas câmeras digitais. Cerca de 4 bilhões de fotos foram feitas com celulares nos Estados Unidos em 2004 e a previsão para este ano é de cerca de 7,5 bilhões. Enquanto isso, as imagens feitas por câmeras digitais podem subir de 28 bilhões no ano passado para 40 bilhões este ano, espera a IDC.
Dinâmica
Como o Scoopt "vende" as fotografias?
O site deixa bem claro duas coisas: o serviço não é cobrado dos usuários, apenas da mídia, que seleciona as fotos que deseja publicar; em segundo lugar, o Scoopt não "vende" as imagens, mas as "licencia".
Quando o usuário envia uma imagem ao Scoopt, ele automaticamente concorda com um artigo contratual em que garante ao site exclusividade de licenciamento da foto. Por 90 dias, o fotógrafo não pode licenciar em paralelo a sua imagens nem publicá-la em endereços na internet, sob pena de o comprador (jornais e revistas) exigir seu dinheiro de volta.
Há casos em que a equipe do Scoopt percebe que uma licensa imediata não será efetuada e, então, comunica o proprietário da foto que ele pode usá-la em outros meios. Esse comunicado é enviado via e-mail em no máximo 48 horas.
Se a equipe jornalística do Scoopt percebe que determinada foto é "quente", ou seja, muito interessante para a mídia, seus integrantes entram em contato com jornais e revistas para "vendê-la" sempre na base da exclusividade (nunca uma foto classificada como "quente" será licenciada para dois veículos ao mesmo tempo). Daí o nome do serviço: Scoopt é uma corruptela de "scoop", que significa "furo jornalístico" em inglês.
Após a primeira publicação, a imagem pode ser comercializada em caráter não-exclusivo. Cada vez que isso acontece, o fotógrafo recebe os 50% a que tem direito.
Caso a mídia não demonstre interesse na imagem, ela cai no arquivo do Scoopt. Com alguma sorte, a foto poderá ainda ser vendida (a um preço bem baixo).
Potencial
50% do valorda licença para uso da imagem negociada pelo Scoopt vai para o fotógrafo que, entretanto, permanece com os direitos autorais da foto.
200 mi de celularescom câmera digital integrada foram vendidas em 2004. Estudos afirmam que esses aparelhos serão maioria a partir de 2007.
40 bi de fotosdigitais serão feitas em 2005. Ao contrário do senso comum, a pesquisa mostra que as vendas das câmeras digitais não foram afetadas pelos celulares e devem crescer mais de 20% neste ano.