O ser humano gosta de rotinas desde que é bebê e todos gostam do que é conhecido. A afirmação é da professora do curso de Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber. Para ela, a rotina é uma prática mais cômoda ao ser humano, o que faz com as mudanças se tornem um tanto quanto desconfortáveis, como mostra o livro "Quem Mexeu no Meu Queijo?", de Spencer Johnson.

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Em uma entrevista à Gazeta do Povo Online, Lídia comenta por que este chamado desconforto acontece, em quais áreas as pessoas se estressam mais e como, de uma maneira geral, as pessoas podem lidar com essas situações. Além de professora da UFPR, Lídia é coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento (NAC) da UFPR e do Projeto Criança. Confira os principais pontos da entrevista a seguir.

Gazeta do Povo Online - As pessoas têm muito medo da mudança? Por quê?Lídia Weber - Eu não diria que as pessoas têm medo de mudanças, mas que o ser humano sente-se mais confortável psicologicamente com certas rotinas. O ser humano gosta de rotinas desde que é bebê. É como se o cérebro economizasse energia e percorresse os mesmos caminhos dos circuitos e sinapses já consolidadas. Assim, você pode passar na frente de uma casa, sentir cheiro de bolinho de fubá e lembrar-se de sua avó, ouvir uma música da adolescência e do primeiro beijo. Crianças gostam que os pais contem a mesma história, que mantenham rotinas e gostamos de saber que domingo é dia de churrasco. Portanto, quanto maior a mudança, maior pode ser o desconforto, especialmente quando o significado da mudança é negativo. Assim, não dá para generalizar tanto. Ganhar na loteria é uma mudança e tanto e pode até trazer descoforto também, mas não pode ser comparada com o negativo da morte de um parente querido.

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Em qual área as pessoas têm mais medo de mudar? Por quê?Nas questões que estão vinculadas a significados afetivos: família, amores, amizades, perdas especialmente. Às vezes fica-se com aquele namorado "mais ou menos" porque ele tem lá as suas coisas boas, além do receio da solidão. O que gratifica o ser humano é afeto, atenção, amor. Logo, a perda disso é o que traz maior receio.

Com qual das personagens do livro você acha que as pessoas se encaixam mais: Sniff (percebe as mudanças com acilidade), Scurry (corre em atividade quando há uma mudança), Hem (rejeita a mudança) ou Haw (tenta melhorar quando percebe que a mudança pode ser para melhor)?Não é possível dizer isso de maneira global, pois cada padrão depende do repertório comportamental adquirido pelas pessoas em sua história de vida, de como foram criados, educados, de como seus pais mostraram-lhes o mundo, da cultura, do padrão de vida, e do tipo de mudança. Os personagens são simbólicos e gerais demais. Em geral, todos procuram o melhor para si e, como já falei, gostamos do conhecido.

Na sua opinião, como as pessoas podem lidar com as mudanças repentinas, de um modo geral?Depende do tipo de mudança e de sua valoração afetiva, negativa ou positiva. A morte de alguém amado repentinamente deve ser simplesmente aceita e essa aceitação não pode ser repentina mesmo. A pessoa precisa reorganizar seus sentimentos, sua vida, chorar o que tem direito. Ao ser demitido, por exemplo, não é possível ficar chorando muito, pois o dinheiro acaba. É preciso tentar ser um pouco sistemático, organizar suas ações, pedir ajuda se necessário, tanto a amigos, como a profissionais, pois às vezes ficamos tão envolvidos em nosso mundo conhecido que não conseguimos perceber outras portas e janelas além daquela se se fechou.