Linha Verde: queda na arrecadação ameaça investimentos da prefeitura, como a parte que ainda não foi concluída do complexo viário| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Governos não se prepararam para a crise

De acordo com Gilberto Luiz Amaral, diretor do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), os governos não tomaram precauções em relação à crise econômica, acreditando que seus efeitos no Brasil seriam pequenos. Assim, aumentaram seu comprometimento de caixa com despesas correntes e terão agora que contigenciá-las, a exemplo do que foi anunciado pelo governo federal na semana passada.

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Efeitos

Veja como a crise financeira pode afetar as receitas de estados e municípios:

ISS

A desacelaração da economia afeta a compra e venda de serviços, sobre os quais incide o Imposto sobre Serviços (ISS), principal tributo dos municípios. Em Curitiba, a receita de ISS representa boa parte da arrecadação tributária.

ICMS

A redução do ritmo de consumo afetará a geração de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que representa 84% da arrecadação tributária do Paraná. Os municípios também são afetados, já que ficam com 25% do ICMS arrecadado pelos governos estaduais.

BENS

Dois setores que vinham no embalo do crédito – o de venda de automóveis e o imobiliário – já reduziram o número de transações, com impacto em dois impostos em especial - Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).

Fundos

Em um cenário de desaquecimento, as transferências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) pela União podem sofrer decréscimo. Isso porque as empresas podem reduzir as vendas, com impacto no faturamento e no imposto de renda - responsável por 85% da verba do FPM.

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A prefeitura de Curitiba vai cortar R$ 100 milhões com gastos de custeio e tentar negociar mudanças na correção de uma dívida de R$ 111 milhões do PIS/Pasep com a União para tentar reforçar seu caixa, após a arrecadação ter frustrado as previsões neste início de ano. No primeiro bimestre, a receita tributária não teve crescimento real e ficou em R$ 399,95 milhões. "Estamos cautelosos e preocupados", resume o secretário de Finanças, Luiz Eduardo da Veiga Sebastiani. A receita de impostos ficou 3% abaixo do esperado e a de transferências correntes, 5%.

Segundo ele, se mantida essa tendência, haverá a necessidade de cortes de investimentos. "Estamos avaliando. Um grupo funcional na secretaria está monitorando de perto o comportamento da receita. Mas posso dizer que a situação no momento não é confortável. Se não houver uma recuperação rápida nos próximos dois meses, teremos que adiar novos projetos."

De acordo com o orçamento previsto para 2009 – elaborado antes do estouro da crise – Curitiba prevê uma receita bruta de R$ 3,7 bilhões em 2009, 15% acima da registrada em 2008. Desse total, boa parte vem de arrecadação de tributos e repasses da União e do estado. Mas a piora do cenário econômico já atingiu a receita dos principais impostos cobrados pelo município.

A arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS), uma das principais fontes de receita da cidade, sentiu o baque da crise no primeiro bimestre do ano. Responsável por 30% da receita tributária de Curitiba, o ISS teve queda real – já descontada a inflação medida pelo IPCA – de 3,58%, para R$ 74,86 milhões. O ISS foi no embalo da desaceleração de outros segmentos já atingidos pela crise, como o comércio e a indústria. "Foi uma queda forte para uma receita que vinha crescendo, entre janeiro e outubro do ano passado, com uma taxa real de 8,79%", diz. A redução do ritmo do mercado imobiliário, por sua vez, foi responsável por uma queda de 10,7% na arrecadação do imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI) no bimestre na comparação com o mesmo período do ano passado. Fechou o período com R$ 13,27 milhões. O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) só não seguiu essa tendência por causa do reajuste do valor do imposto e do grande número de pagamentos à vista. Foram R$ 117,3 milhões, com ganho real de 5,8%.

Repasses

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Os repasses da União e do estado também diminuíram. O total de repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) teve queda real de 5,7% em fevereiro, para R$ 15,1 milhões. O FPM é alimentado com verbas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto de Renda (IR). Os repasses do ICMS pelo governo do estado também tiveram queda real de 0,7%, para R$ 64,3 milhões. "O problema é que os repasses da União e dos estados estão vinculados à arrecadação. Teremos que encontrar outras alternativas para reduzir despesas", avalia.

De acordo com Sebastiani, a prefeitura de Curitiba e outros municípios vão tentar mudar o índice de correção da dívida de PIS/Pasep que têm com a União. Em Curitiba, esse passivo soma R$ 111,7 milhões com prazo de pagamento de 70 anos e é corrigida pela taxa de juros Selic. "Queremos trocar esse índice por outro indicador, como a TJLP (taxa de juros de longo prazo). Como está não conseguimos amortizar a dívida", diz Sebastiani, que amanhã segue para Brasília para uma reunião com a Receita Federal.

A prefeitura também já começa a colocar em prática a redução de 10% nos gastos com custeio que deverão gerar uma economia de R$ 100 milhões. Entre as medidas, que não atingem as áreas de educação e saúde, estão o corte de despesas com combustível, luz, horas extras, telefonia e serviços de impressão.