Há alguns anos, publicamos aqui na Gazeta uma reportagem que contava que sete em cada 10 curitibanos já passaram algum tipo de dificuldade por não contar com uma reserva financeira para situações de emergência. Guardar algum dinheiro em uma aplicação que seja fácil e rápido para resgatar em caso de necessidade é um princípio importante na administração financeira. E, provavelmente, aquele que mais desprezamos quando as coisas vão bem.
E tudo tem ido bastante bem na economia brasileira nos últimos anos. Há quase uma década o desemprego não é tão baixo. A renda do trabalhador tem crescido ano após ano. A inflação está sob controle vá lá, poderia ser menor, mas está dentro da faixa que o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional consideram aceitável, que vai de 2,5% a 6,5% ao ano.
Agora, preste atenção: pelas previsões de alguns economistas, o ano pode não ser tão afortunado. Não é nenhum cenário de caos, mas tem crescido o número de especialistas que não comungam do mesmo otimismo do governo para o crescimento econômico de 2013. Para Guido Mantega e companhia, o PIB do ano que vem vai aumentar algo como 5%, mas já há quem trabalhe com estimativas de 2,5%. O FMI já trabalha com crescimento menor (veja reportagem na página 22). Dois anos de crescimento baixo podem prejudicar bastante variáveis como salário e nível de emprego. Sendo assim, não é tão remota a possibilidade de uma boa quantidade de pessoas precisar de uma reserva de emergência em 2013.
Tomara que não seja o seu caso, caro leitor. Mas não custa nada estar preparado. Teoricamente, o cenário atual é o melhor possível para alguém constituir uma reserva desse tipo. Basta economizar um pouco...
Gambiarras
Mas por que 2013 seria pior do que 2012? A resposta a essa questão está na fórmula adotada para combater a pasmaceira generalizada que toma conta da economia global desde 2009. Já que não havia comprador lá fora para a produção brasileira, o governo concluiu acertadamente, aliás que o país deveria se virar sozinho. E criou diversas iniciativas para estimular o mercado local. Assim surgiram os incentivos à compra de bens duráveis, principalmente carros e eletrodomésticos, que ganharam desconto nos impostos e facilidades de financiamento. O crédito também foi beneficiado: lá fora, os bancos reduziram os empréstimos, com medo da inadimplência, e era preciso conceder benefícios para que as torneiras não se fechassem aqui também.
Essas medidas funcionaram. Mesmo em 2009, o ano em que a crise foi mais aguda, o PIB encolheu apenas 0,33%. O problema é que elas têm efeito limitado. São como gambiarras: não consertam a economia, apenas fazem com que ela continue operando. Não dá, por exemplo, para confiar numa expansão contínua na venda de bens duráveis. Afinal, eles são duráveis ninguém troca de geladeira ou de máquina de lavar todo ano. Além disso, facilitar financiamentos também significa que as pessoas vão se endividar, e é isso que vem ocorrendo.
A crise continua. No mês passado ela fez quatro anos. Para que o Brasil saia dela mais fortalecido é preciso fazer mudanças mais estruturais aquelas que todo mundo fala há algum tempo: reduzir o valor dos desembolsos da dívida pública, aumentar os investimentos em infraestrutura, diminuir o custo da folha de pagamento. Se conseguir fazer isso, o atual governo deixará marcas duradouras na história do país.
Já você, leitor, tem condições de manter as suas contas em dia. Não faça gambiarras com sua reserva.
Mudando de assunto...
Quem ainda vai comprar presente de Dia das Crianças pode se preparar para um precinho pouco camarada. De janeiro a setembro, segundo o levantamento de preços que alimenta as estatísticas do IPCA, os brinquedos subiram 11,24% em Curitiba. É a maior alta do país no segmento. No mês passado, a alta foi de 1,9%.
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