Até antes da crise europeia, os países do bloco se dividiam em relação a qual modelo seguir. De um lado, as nações com maior rede de proteção social, como França e Alemanha. De outro, Irlanda, Inglaterra e países do Leste europeu, com modelos mais liberais, menor carga tributária e maior flexibilização trabalhista.
O fracasso irlandês reacende a questão. Para muitos economistas, o caso da Irlanda é a prova de que o Estado precisa estar mais presente na economia. Outros argumentam que é preciso entender exatamente qual é a natureza dos problemas em Dublin, bem diferente daqueles da Grécia, por exemplo, onde houve um descontrole das contas públicas por causa do tamanho exagerado do Estado.
A Irlanda experimentou um grande sucesso econômico nos últimos 15 anos, que lhe garantiu o apelido de "tigre celta". A receita para a prosperidade foi basicamente seguir a cartilha da liberalização econômica, com Estado enxuto e carga tributária reduzida. O país, porém, descuidou-se de uma área fundamental em qualquer economia: a regulamentação do setor financeiro.
Com o boom da economia, os bancos tomaram risco demais e foram pouco criteriosos, o que culminou na criação de uma bolha no setor imobiliário. Quando percebeu o problema, o governo irlandês decidiu salvar as instituições, cobrindo o passivo do setor bancário. A partir dali, a economia degringolou. O ônus resultante das decisões equivocadas dos bancos recaiu sobre a população.
Os impostos sobre as empresas, que já eram baixos, não foram suficientes para criar uma receita que fizesse frente às obrigações do país. O próprio fato de os impostos serem baixos induziu o governo a incentivar a bolha imobiliária, porque via nos imóveis e na construção civil uma opção para o aumento da receita. Para economistas que defendem essa tese, o grande erro da Irlanda foi não permitir uma maior diversidade no setor financeiro, permitindo que os grandes bancos estrangeiros (mais cautelosos) dominassem o mercado.