O governo cometeu barbeiragens na condução da economia nos últimos anos, e o escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato deprimiu ainda mais os investimentos. Mas, de uns meses para cá, a crise política se impôs como principal razão para a completa ausência de perspectivas de recuperação da economia.
A constrangedora incapacidade de articulação do Planalto, a hesitação de aliados quanto a propostas impopulares e o oportunismo de oposicionistas – que muitas vezes votaram contra suas convicções apenas para ver o governo sangrar – impediram ou protelaram o avanço de medidas importantes para corrigir os descalabros da política fiscal, tardiamente reconhecidos pelo governo como determinantes para a crise econômica.
A falta de um horizonte de recuperação, refletida na piora contínua dos indicadores de confiança de empresários e consumidores, tem o efeito de deteriorar ainda mais as condições atuais da economia. Adia decisões de investimento, acelera demissões, “desancora” expectativas para a inflação, o que, por si só, alimenta o avanço dos preços. Tudo isso só adia a retomada.
Nesse círculo vícioso pode estar um trunfo da oposição. Quanto mais demorar a definição do impeachment, mais grave ficará a situação da economia e maior será a hipotética mobilização popular pela derrubada da presidente, o que pode ser determinante para a persuasão de congressistas indecisos. Isso ajuda a explicar por que o governo trabalha pelo cancelamento do recesso de fim de ano, a fim de apressar a análise do pedido de impeachment.