Estudo inédito da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) indica que o país tem potencial para gerar 23 bilhões de metros cúbicos por ano de biometano| Foto: Marcos Labanca/Gazeta do Povo

Depois de uma alta de mais de 50% nas contas de luz no ano passado, vale quase tudo para economizar. Até mesmo investir em lixo. Já existem cidades no país que planejam gerar sua própria energia a partir de matéria orgânica (lixo, resíduos agrícolas e dejetos animais).

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Em Curitiba, um projeto-piloto prevê não apenas o uso de lixo urbano, mas também do próprio esgoto. A multiplicação de projetos não é à toa. Um estudo inédito da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) indica que o país tem potencial para gerar 23 bilhões de metros cúbicos por ano de biometano – o produto final de uma usina de biogás. O biometano, que tem poder calorífico igual ao gás natural, permitiria gerar até 37 milhões de megawatts por ano de energia, pouco mais de um terço da energia gerada por ano pela usina de Itaipu.

Do volume total de biometano que pode ser gerado, 3 bilhões de metros cúbicos viriam do lixo urbano (saneamento), 8 bilhões de metros cúbicos de agricultura (rejeitos) e dejetos animais, e 12 bilhões de metros cúbicos a partir de cana-de-açúcar.

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“A geração de energia em usinas de biogás é barata, com abundância de material disponível e que, além de aliviar a conta de luz, pode reduzir a poluição dos rios e a emissão de gases do efeito estufa”, afirmou Cícero Bley Júnior, presidente da Abiogás.

Nos cálculos da Abiogás, no futuro, esta fonte poderia representar até 12% da matriz energética brasileira, contra o patamar atual, de 0,05%. Com o biometano é possível produzir desde energia elétrica até combustível veicular (GNV), além de poder ter uso em termelétricas substituindo o carvão, que é mais poluente.

No interior do Paraná

Mesmo sem um programa efetivo de incentivo ao setor, já existem projetos em desenvolvimento no país. Entre eles, um dos destaques é o pequeno município de Entre Rios do Oeste, no Paraná, que tem 4 mil habitantes e 140 mil suínos.

A cidade começou obras para gerar energia a partir dos dejetos de porcos, e o objetivo é atender a 100% da demanda de Entre Rios do Oeste. As primeiras etapas de operação do projeto, que envolvem fazendeiros criadores de suínos e aves, começaram em janeiro. Ao todo, 19 propriedades participam em parceria com a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás).

“Vai se tornar a primeira cidade do país abastecida por biogás gerado a partir de dejetos de animais. Ainda vai solucionar um grave problema ambiental de poluição de rios. A cidade tem 4 mil habitantes, mas os danos ambientais com dejetos animais equivalem a uma cidade de 500 mil habitantes”, disse Bley Júnior.

Proposta

Representantes do setor pretendem levar ao Ministério de Minas e Energia uma proposta para um Programa Nacional de Biogás e Biometano. Segundo Bley Júnior, o país já tem a tecnologia necessária e vários fabricantes de usinas de biogás, de biodigestores e componentes.

“Uma política nacional poderá incentivar o surgimento de novos fabricantes, gerando mais investimentos e empregos”, afirmou.

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O estudo estima que um projeto de biogás para produção de 1 megawatt (MW) custa R$ 2,5 milhões, um patamar vantajoso em relação ao de outras fontes de energia, como microcentrais hidrelétricas e energia solar.

Curitiba

Um exemplo de projeto em andamento é a Parceria Público-Privada (PPP) da CS Bioenergia, em Curitiba, que usa, além de rejeitos de lixo urbano como alimentos vencidos, restos de comida de restaurantes e shoppings, o lodo do esgoto sanitário para gerar energia.

“No Brasil, o biogás ainda é um negócio novo, apesar de a tecnologia já ser consagrada no exterior. Precisamos de uma política pública para desenvolver uma cadeia de suprimento para o biogás”, disse Luciano Fedalto, diretor técnico da CS Bioenergia.

Segundo Fedalto, a empresa privada, em parceria com a Sanepar, estatal de saneamento do Paraná, está construindo um projeto de biogás na capital. Com investimentos de R$ 62 milhões, a primeira etapa ficará pronta até o fim do ano.

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Serão usados 700 metros cúbicos por dia de lodo de esgoto e 200 toneladas de resíduos orgânicos (restos de alimentos). O biogás vai, por dutos, para a minicentral térmica em construção no mesmo complexo e vai gerar 2,8 megawatts médios (MWmédios).

“Usamos um mix de tecnologias desenvolvidas por nós mesmos com outras tecnologias europeias. Será a primeira usina de biogás do gênero no país com uso de lodo de esgoto. Mas é fundamental o país ter uma política para incentivar mais o desenvolvimento destes projetos”, disse Fedalto.