Curitiba A criação de uma cláusula de adaptação competitiva no Mercosul só se justificaria caso fosse apontada por um estudo sobre os problemas nas relações comerciais do bloco. A avaliação é do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo Costa da Rocha Lourdes. Para ele, se o Brasil ceder à pressão argentina, estará simplesmente compensando a ineficiência dos setores que ficam para atrás da concorrência. "Precisamos mudar de atitude e de método", defende.
A sugestão parte das linhas de ação da Organização Mundial do Comércio (OMC). A instituição considera que as regras que atenuam as diferenças entre dois países devem ser temporárias e atender a um projeto de recuperação do setor mais fraco. O presidente da Fiep afirma que a concessão de privilégios faz com que as indústrias deficitárias se acomodem, prejudicando as mais competitivas. "A criação de uma cláusula de adaptação prejudica a competitividade da indústria argentina e a da brasileira", afirma.
Em sua avaliação, o governo brasileiro deve ceder à Argentina por problemas internos, e não para garantir integração com seu principal parceiro no Mercosul. "O problema é o mau funcionamento da economia brasileira, divorciada da realidade produtiva do país." Ele considera que a "queda homeopática" da taxa básica de juros, a Selic, vem fragilizando as cadeias produtivas aos poucos. As indústrias brasileiras estariam substituindo fornecedores nacionais por internacionais, para garantir menores preços. Essa fragmentação pode se tornar um problema para o crescimento econômico, alerta. Ele considera que a crise torna o entendimento com a Argentina decisivo, diante do volume de negócios mantidos com o país vizinho.
A entrada da Venezuela no Mercosul, prevista para dezembro, ainda é observada com reservas pelos empresários brasileiros. Para a indústria, não deve haver grandes mudanças, diz o presidente da Fiep. Ele considera que a economia venezuelana é estatizada, ou seja, protegida por uma série de restrições à influência externa. Em sua avaliação, o Brasil teria maior vantagem se dependesse do petróleo venezuelano, como a Argentina.
"A Venezuela não deve abrir seu mercado nem para os produtos agrícolas nem para as indústrias brasileiras", afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa, que também aponta a Argentina como principal parceiro do Brasil no Mercosul a longo prazo. Ele diz ainda que o presidente venezuelando, Hugo Chá-vez, por sua oposição cerrada aos Estados Unidos, po-de isolar o bloco do Cone Sul da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e adiar as negociações com a União Européia (UE).
Ele nega que a indústria brasileira esteja querendo levar vantagem sobre a Argentina. "A Fiesp é pragmática, realista. Se a cláusula fosse boa para o comércio, não faríamos oposição. Sabemos que qualquer restrição ao livre comércio se choca com o Tratado de Assunção."
Ele considera que a proposta do governo argentino vai criar "um gatilho automático e unilateral". Outro problema, aponta, é que não haveria um prazo determinado para a suspensão da cláusula. "Ainda não tivemos nem mesmo acesso a detalhes do acordo. Queremos garantir, pelo menos, que a cláusula valha para os dois lados, antes de ela ser assinada."
A previsão é de que o volume de negócios entre o Brasil e a Argentina neste ano seja o maior desta década. As negociações entraram em declínio no final dos anos 90 e ainda não se recuperaram.
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