O PT admite que o governo precisa reconquistar a credibilidade com o mercado financeiro, mas a escolha de um economista com perfil ortodoxo para substituir Guido Mantega no Ministério da Fazenda é rechaçada pela cúpula do partido.
A avaliação de dirigentes ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo é que a nomeação de um economista muito "pró-mercado" representaria a antítese do discurso encampado durante a campanha, quando a presidente Dilma Rousseff tentou colar em seus oponentes a marca de "candidatos dos banqueiros".
Embora os petistas digam que não pretendem criar "constrangimentos" para a escolha, no que depender do PT o novo ministro da Fazenda tem nome: o ex-secretário executivo da Fazenda Nelson Barbosa, que deixou o governo em maio de 2013 após se desentender com o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Nas palavras de um ministro do PT, Barbosa é "um ótimo economista", "ponderado" e que "ouve bastante".
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também vê Barbosa, um colaborador de seu instituto, com bons olhos. Mas nos bastidores abre possibilidade de opções ortodoxas e tem emitido sinais positivos por duas outras alternativas: o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), comenta as opções: "Os três são boas escolhas e a presidente vai poder escolher de acordo com o perfil que preferir. O Nelson Barbosa tem boa sensibilidade política e social. Ele tem um perfil muito bom de diálogo com o Congresso Nacional".
Já o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE), diz que o nome deve atender ao mercado, mas também outros "setores da sociedade". "Cabe à presidente escolher o novo ministro de acordo com as exigências do momento. É bom que o nome dialogue com o País, com o mercado e com os setores da sociedade."
No início do ano passado, Lula chegou a sugerir que Dilma trocasse Mantega por Meirelles. Ela nunca teve simpatia pelo ex-presidente do BC e não aceitou a proposta. Agora, Lula tem dito a interlocutores que a presidente precisa nomear alguém do mercado financeiro para acalmar os investidores num momento de crise econômica.
O comando do PT, porém, vê essa ideia com restrições. Na campanha, o partido fez duras críticas à então candidata do PSB, Marina Silva, por sua ligação com Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú e coordenadora do programa de governo da ex-ministra.
Parlamentares petistas destacam que Meirelles fez oposição à política anticíclica adotada pela equipe econômica no ápice da crise financeira de 2008, durante o governo Lula. Para um integrante da Executiva nacional do PT, o nome mais palatável é o de Barbosa. O argumento é que "nem pode ser só Estado nem só mercado".
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