As cotações do petróleo caíram mais de 70% desde meados de 2014, mas a economia brasileira dificilmente ganhará algo com isso. O mais provável é que continue sofrendo apenas os efeitos negativos desse movimento.
Em condições normais, combustíveis e outros derivados da commodity ficariam mais baratos, o que reduziria custos de produção e transporte de uma infinidade de produtos. Isso ocorre em vários países. Mas, no Brasil, esses mercados são dominados pela Petrobras, e ela, com problemas de caixa, não parece disposta a diminuir preços tão cedo.
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Por outro lado, o barril barato inviabiliza alguns campos de petróleo, desestimula investimentos e esvazia a carteira de encomendas dos fornecedores do setor, com reflexos já observados na atividade econômica.
As cotações mais baixas também afetam a arrecadação do setor público. O pagamento de royalties e participações especiais caiu 31% em 2015, o que significou R$ 11 bilhões a menos nos cofres da União, estados e municípios. Nova queda é esperada para este ano.
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Orçamento revisto
O esquema de corrupção revelado pela operação Lava Jato já havia obrigado a Petrobras a cancelar projetos. Na semana passada, ela voltou a rever planos, desta vez por causa da alta do dólar e das novas baixas na cotação do óleo. O plano de negócios, que antes previa o desembolso de US$ 130 bilhões até 2019, encolheu para US$ 98 bilhões.
Na bolsa
As ações da Petrobras voltaram a cair nesta quarta (20).Os papéis preferenciais fecharam em queda de 4,93%, a R$ 4,43. As ações ordinárias se desvalorizaram em 3,57%, a R$ 5,93. O desempenho foi mais uma vez afetado pelo declínio do preço do petróleo, o que também fez com que o dólar fechasse o dia a R$ 4,12. O barril do Brent, negociado em Londres, caiu 2,71%, para US$ 27,97.
A estatal vem pisando no freio há dois anos. Em 2013, quando investiu R$ 104 bilhões, ela respondeu por 9,4% de todos os investimentos produtivos do país. No ano passado, conforme valores acumulados em 12 meses até setembro, o desembolso foi de R$ 80 bilhões e sua fatia no total nacional, de 7,2%.
Perdas e ganhos
Parte da dificuldade de caixa da Petrobras vem da política de preços imposta pelo governo. Analistas estimam que, de 2011 a 2014, a empresa perdeu algo entre R$ 46 bilhões e R$ 54 bilhões ao não reajustar os preços dos combustíveis à medida que o petróleo subia lá fora.
Agora, novamente na contramão, a companhia cobra bem mais caro que o mercado internacional. Desde que o preço do petróleo começou a cair, ela reajustou duas vezes a gasolina e o diesel nas refinarias, em novembro de 2014 e setembro de 2015.
Questionada sobre a trajetória dos preços domésticos de agora em diante, a Petrobras respondeu que “tem como referência o alinhamento com os preços internacionais, com base numa visão de médio prazo”, sem refletir a volatilidade das cotações do barril e da taxa de câmbio.
Para Rafael Schiozer, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/Eaesp), é pouco provável que a gasolina ou o diesel caiam para o consumidor. “Antes, a Petrobras sofreu com o governo segurando preços para conter a inflação. Agora, ela não baixa para se salvar um pouco”, diz.
Segundo ele, a empresa também tende a manter os preços de outros derivados, como o querosene de aviação, o gás natural e a nafta, principal insumo da indústria petroquímica. “Se houver queda, será pequena, porque o mercado não é perfeitamente competitivo.”
Dívida
Com a queda das cotações do petróleo, a Petrobras terá menos dinheiro para investir e também para pagar duas dívidas. “Esperava-se que, entre 2016 e 2018, a empresa pagasse dois terços das dívidas em vencimento e rolasse um terço. Agora, a expectativa é de que pague metade e role o restante”, diz Rafael Schiozer, da FGV.
Queda no preço do barril ameaça pré-sal
Por mais que a Petrobras ganhe dinheiro no curto prazo, cobrando caro pela gasolina e o diesel, a empresa tem muito a perder com a queda das cotações do petróleo. Seu principal negócio, afinal, é a produção de óleo bruto.
Em meados do ano passado, a companhia projetava um preço médio de US$ 70 por barril entre 2015 e 2019. Em outubro, revisou a previsão para US$ 55 e, na semana passada, para US$ 45. Quanto mais baixo o preço, menos retorno dão os investimentos, principalmente no pré-sal, que já responde por 36% da produção da empresa.
Em diferentes ocasiões, executivos disseram que os campos do pré-sal seriam rentáveis com o barril vendido a partir de US$ 40 ou US$ 45. Mas o excesso de oferta global – calculado em 1,5 milhão de barris por dia pela Agência Internacional de Energia – levou a cotação abaixo de US$ 28.
“O pré-sal não se viabiliza com um preço tão baixo. Até porque seu petróleo é mais barato que a cotação internacional, por ser mais pesado”, explica Leonardo Caio, coordenador do MBA Executivo em Petróleo e Gás da Fesp.
Bancos como o Morgan Stanley e o BofA já veem o barril abaixo de US$ 20 em breve, e o Standard Chartered fala em US$ 10. Por outro lado, alguns analistas ponderam que o preço baixo acabará limitando a oferta, empurrando as cotações para cima em algum momento. Por esse motivo, a LCA Consultores aposta que o preço volte a US$ 50 até o fim do ano.
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